Ano VII

Mundo Cão

sábado mar 26, 2016

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Mundo Cão (2016), de Marcos Jorge

Então vivemos em um mundo cão (ou, um Brasil cão), que experimenta a completa falência da justiça, em que a lei é sinônimo de punição, não de direito? Talvez.  O filme de Marcos Jorge é todo ele um mundo nefasto, em que a lei do roteiro espertalhão devora e mastiga tudo, sem pena.

A maneira deplorável como Jorge encara o mundo passa pela estrutura do roteiro, que aqui potencializa o que já era vil em Estômago, assumindo de uma vez por todas que a única intenção do diretor é proporcionar ao espectador choques de dramaturgia, da maneira mais barata possível. Um mundo cão, na arte do cinema, é justamente isso, um roteiro que só joga com golpes baixos, que morde a orelha do público, que atira pó branco nos olhos daqueles que olham para a tela.

Ao menos, Jorge assume finalmente toda a feiura que ficava ligeiramente escondida pelas necessidades dramatúrgicas de se criar dois mundos distintos em Estômago, o da classe média e o da cadeia. Neste seu terceiro longa-metragem, não é mais preciso disfarçar nada e a pobreza formal pode ser assumida em toda sua glória. As insistentes transições em cortina, uma das grandes responsáveis pela pobreza formal de Mundo Cão, em nada remetem a um recurso de montagem utilizado nos serials vagabundos dos anos 30 – e um dos graus de medição da pobreza é a comparação com seu contrário. É clara a tentativa de se obter um sentimento de mundo pop de subúrbio – um mundo que se alimenta da violência barra pesada da literatura barata, do quadrinho -, mas dada a ineficácia artesanal com que o recurso é utilizado (é simples: as transições são usadas da maneira errada), evidencia-se a ingenuidade.

A ingenuidade que se transfere para simbolismos simplórios, como os diversos planos de Babu Santana e sua figura rotunda roncando no sofá, como uma besta, ou Lázaro Ramos amarrado de quatro no chão, como um cachorro, ou ainda, os grunhidos animalescos de Isaura, personagem que é a filha surda de Santana (e que, aliás, chama-se Santana no filme e dirige um… adivinhem?). Bichos, todos eles – que sacada, deve ter pensado Jorge. Sacada, mesmo, é tradução visual literal da expressão “fundo do poço”, com o diretor termina o filme. Poderia muito bem ser uma autorreflexão sobre a própria condição do filme. Mas aí seria esperar demais de Mundo Cão.

Wellington Sari

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