Ano VII

Spotlight

terça-feira jan 19, 2016

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Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, 2015), de Tom McCarthy

Sendo Spotlight seu quinto trabalho como diretor, Tom McCarthy é um cineasta que parece não ter definido um estilo ou uma linha de percurso uniforme para sua obra. Em sua estreia com O Agente da Estação (2003), Mc Carthy embarcou no já então desgastado modelo do “cinema independente americano” e suas tramas de relações humanas entre indivíduos comuns e derrotados no modelo social capitalista. No seguinte, O Visitante (2007), até hoje seu pior trabalho, adicionou à formula o elemento político-social. O interesse por um cinema mais popular e comercial ficou bastante evidente no mal-recebido Trocando os Pés (2014), comédia de tintas fantásticas e sentimentais estrelada por Adam Sandler.

Fica ainda mais evidente com Spotlight o fato de McCarthy ter abandonado maiores pretensões autorais, optando por seguir o caminho do cinema artesanal bem realizado dentro de modelos narrativos convencionais. Essa perda de ambições parece ter feito bem ao diretor, que consegue aqui o melhor e mais coeso entre seus filmes. Spotlight segue um padrão bem definido e sedimentado: aquele traçado por Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, acompanhando a investigação jornalística de um caso com forte impacto social.

As reportagens do jornal Boston Globe denunciando abusos sexuais por padres católicos e sua ocultação por altos escalões da hierarquia eclesiástica já haviam rendido um telefilme, Our Fathers (2005), no qual Ted Danson interpretava o advogado encarnado em Stanley Tucci em Spotlight. O filme de McCarthy troca o foco da narrativa para a equipe de jornalistas do Globe e deixa clara a crença em uma imprensa ainda voltada à isenção e a seu papel como motor de modificações sociais, o que cada vez mais, com o passar dos anos, vem se mostrando como uma visão demasiado romântica e idealizada. O perfil que o eficiente roteiro, escrito em parceria com Josh Singer confere aos personagens é absolutamente coerente com essa visão: pessoas comuns, sem qualidades heroicas e sujeitas às falhas inerentes aos seres humanos, mas extremamente competentes em seu ofício e obstinadas em exercer um modelo de jornalismo ainda comprometido em descortinar verdades ocultas.

Dois termos utilizados no parágrafo anterior – eficiência e competência – se aplicam ao resultado final de Spotlight. Estamos diante de um filme que, apesar da ausência de maior brilho ou criatividade que lhe concedam alguma forma de identidade mais definida, cumpre exatamente a sua proposta. Um produto que desperta interesse suficiente pelo tema tratado e pelos caminhos de envolvimento ofertados ao espectador através da forma pela qual McCarthy consegue orquestrar os elementos de roteiro, montagem e aproveitamento de um elenco bem escalado. Caminhos que podem sugerir um direcionamento à carreira do cineasta, que aqui se mostra um artesão extremamente seguro. Mas cuja irregularidade da carreira pregressa não permite prever se esse trajeto, mesmo que venha a ser seguido à risca, lhe tornará apto a voar em alturas mais elevadas, ou mesmo a repetir os aspectos positivos do filme atualmente em questão.

Gilberto Silva Jr.

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