Ano VII

Os Campos Voltarão

terça-feira nov 3, 2015

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Os Campos Voltarão (Torneranno I Prati, 2014), de Ermanno Olmi

Bem menos explorada pelo cinema que o combate ocorrido entre 1939 e 1945, a Primeira Guerra Mundial, caracterizada por embates entre combatentes e oficiais despreparados, inimigos invisíveis e o insalubre isolamento das trincheiras, se torna um terreno cinematográfico ainda a ser plenamente desbravado. Lewis Milestone (Sem Novidades No Front, 1930) e Stanley Kubrick (Guerra Feita de Sangue, 1959) fizeram os retratos mais contundentes desse momento histórico.

Agora, nesse trabalho mais recente, Ermanno Olmi volta à Guerra de 1914 a 1918, explorando dramaticamente os parâmetros definidos no parágrafo anterior.  E o faz com bastante emoção e propriedade. A indefinição quanto àquilo que se passa, ao espaço onde se combate e à possibilidade da vida durar não mais que um segundo são as bases nas quais se apoia Os Campos Voltarão. Olmi opta por fazer um filme de guerra sem ação, sem combates, explorando essencialmente o estado de espírito derrubado dos personagens.

Com isso, o experiente diretor explora dramaturgia e imagem de forma a transmitir ao espectador, ao menos em parte, a torturante experiência da noite infinita nas trincheiras. Se a mainipulação digital das imagens, da qual parte o trabalho fotográfico Fabio Olmi (filho de Ermanno), traz uma palheta de cores (ou não-cores) artificial que pode não ser esteticamente chamativa, por outro lado essa artificialidade consegue reforçar as intenções de Olmi quanto a transmitir o absurdo da situação que despe os personagens de um naturalismo, mas reforça sua carga de humanidade.

Em tempos onde o “humanismo” em cinema está mais associado a uma exploração quase pornográfica e piegas de dramas individuais, é bom sermos lembrados que Ermanno Olmi ainda é um cineasta que pode ser considerado um humanista sincero, pensando acima de tudo, e de forma quase sempre crítica, em como a raça humana consegue manter sua dignidade acima desses dramas.  Nem sempre acertando de todo, como pode ser evidenciado por um excesso de monólogos literários nesse Os Campos Voltarão. Mas conseguindo ainda compor quadros e momentos de emoção pura que justificam as razões para as quais assistir a seu novo longa se configure numa experiência ainda intensa e gratificante.

Gilberto Silva Jr.

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