O Nome do Filho
O Nome do Filho (Il Nome del Figlio, 2015), de Francesca Archibugi
É um dos grandes mistérios do cinema contemporâneo o que aconteceu a Francesca Archibugi. Nos anos 80 fez o belíssimo Mignon é Partita (1988), e dez anos depois acertou de novo com A Árvore do Pico (1998), embora esse acerto, igual ao de Verso Sera (1990) e maior que o de A Grande Melancia (1993) e o de Com os Olhos Fechados (1994 – que, pensando bem, nem chega a ser um acerto), seja mais tímido que o de Mignon. O fato é que Archibugi tem ao menos três belos longas em sua carreira, o que dentro do cinema contemporâneo não é pouco.
Após A Árvore do Pico, contudo, perdi o contato com o cinema dela. A Mostra SP não trouxe mais seus filmes, e eu, o maior culpado, não fui buscar nas vias paralelas. De modo que não tenho como precisar o momento em que sua assinatura deixou de ser animadora.
O Nome do Filho é uma daquelas comédias que, de tão óbvias e cheias de piadas fáceis, costumam fazer sucesso, muito por causa da miopia do público (e é lamentável que Archibugi tenha caído nessa artimanha de menosprezar o espectador).
Vi pela diretora, sem ter maiores informações sobre o que se tratava, mas logo percebi que O Nome do Filho é um remake de Qual é o Nome do Bebê?, comédia francesa mediana de Alexandre de la Patellière e Matthieu Delaporte (uma de minhas primeiras resenhas para a Ilustrada). Três anos separam um filme do outro. O que o original tinha de bom para motivar esta refilmagem é algo que me escapa, então a única explicação possível só pode ser a da concessão ao mercado. O público quer comédia rasa, é o que terá.
Em alguns raros momentos, Archibugi demonstra por que no passado podia ser considerada uma boa diretora. Destaco um dos que salvam o filme da bola preta (aqui na nossa cotação da Interlúdio): Betta fica estressada com os convidados (a atuação de Valeria Golino é outra das coisas que fazem o filme escapar da cotação mínima) e se retira do cômodo. A câmera a acompanha, e quando ela sai de cena o movimento continua pela mobília, até alcançar a esposa grávida de seu irmão, Paolo, enquadrada em plano fechado. Esse movimento da câmera é aparentemente simples, mas mostra um potencial que quase nenhum outro momento reforça. Um movimento que nos deixa perdidos dentro de um redemoinho familiar que, em todos os outros momentos, dificilmente vai interessar alguém que está vendo três ou quatro filmes por dia. O que temos na maior parte do filme é mesmo a diretora em piloto automático, jogando num limbo sua outrora digna carreira.
Sérgio Alpendre
© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br