Ano VII

Horror americano em 1977: Quadrilha de Sádicos

segunda-feira out 19, 2015

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Horror americano em 1977: Quadrilha de Sádicos

Por Sérgio Alpendre

(O presente texto é uma adaptação de um trecho de minha dissertação de mestrado, defendida em 2013. Entra como complemento aos textos novos – de Calac e Wellington – feitos para homenagear o diretor Wes Craven, especialista em horror)

O que se pode reter de 1977 nos anais da história do cinema, além das ficções-científicas de sucesso estrondoso, dos trabalhos autorais e dos filmes de veteranos como Aldrich são dois gêneros que, de maneiras diferentes, respondiam a um contexto especial: o musical, representado sobretudo por New York New York (Martin Scorsese) e Os Embalos de Sábado à Noite; e o horror, capitaneado por críticas contundentes à América, presentes em filmes autorais como Martin (George A. Romero) e Quadrilha de Sádicos (Wes Craven). Por enquanto, é necessário atentar para o cinema de horror, que despontou com vigor à época e está muito bem representado em 1977, pela qualidade de alguns títulos, como os dois citados acima, e de uma enormidade de obras no mínimo chamativas como Eaten Alive (Tobe Hooper), A Sentinela dos Malditos (Michael Winner), Geração Proteus (Donald Cammell), Aubrey Rose (Robert Wise), O Império das Formigas (Bert I. Gordon), Ruby (Curtis Harrington), Ondas de Pavor (Ken Wiederhorn), A Maldição das Aranhas (John “Bud” Cardos), O Carro: A Máquina do Diabo (Eliott Silverstein) e o injustiçado Exorcista II: O Herege (John Boorman).

Lembremos da importância do cinema de horror dentro do contexto em que trabalhamos (cinema americano dos anos 1970) pela frase de Robin Wood, presente no essencial livro Hollywood from Vietnam to Reagan… And Beyond: “Existem duas chaves para se entender o desenvolvimento do cinema hollywoodiano nos anos 1970: a onipresença do Vietnã no consciente e inconsciente americanos e a incrível evolução do cinema de horror”. Lembremos ainda que 1978 também é um ano espetacular para o cinema de horror, com o lançamento de O Despertar dos Mortos (George A. Romero), Halloween (John Carpenter) e A Fúria (Brian De Palma), e mais sete filmes do gênero.

O breve comentário aqui é a respeito de Quadrilha dos Sádicos, meu preferido de Wes Craven, diretor homenageado por esta edição. Neste filme desconcertante, a América é representada por arquétipos. Temos a matrona, que zela pela harmonia familiar; o pai policial, de hábitos rudes, quase um redneck; a juventude esportista, que entra nas Universidades pela via mais prática; o casal sexualmente superativo que providenciará novos herdeiros brancos; o trailer, símbolo do deslocamento e do espírito on the road que marcam a cultura americana; os cachorros, que protegem e acompanham o desenvolvimento das crianças americanas; e a imensidão do deserto representando as dimensões continentais do país.

Essa representação arquetípica da América sofre o ataque de seu lado B, o inconveniente, a representação da violência: filhotes da guerra, deformados pelos testes nucleares – a selvageria dos excluídos, os não beneficiados pelos civil rights, rejeitados pelo sistema e até pelas justas reivindicações da época. O outro, em suma.

Não há negociação. Os heróis precisam se sujar de sangue para vencer a terrível batalha contra o “mal”. Quadrilha dos Sádicos é um filme eminentemente político, contra o sistema. Mostra que no desenvolvimento do país houve muita intolerância e crueldade, e num momento de crise econômica, moral e política as deformações tornam-se mais evidentes. Ou, como é estudado em psicanálise, o que é reprimido tende a retornar com violência. (Para um estudo de fôlego sobre a relação entre os conceitos psicanalíticos de repressão e opressão e o cinema de horror dos anos 70, ver o livro de Robin Wood citado anteriormente no texto, especialmente o capítulo “American Nightmare”).

Terceiro longa-metragem de Wes Craven, Quadrilha de Sádicos é uma bela metáfora para a violência e o horror que se apossaram do cinema americano pós-Vietnã (depois também de Psicose e do assassinato de JFK).

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