Ano VII

RIO – DIAS 6 e 7

sexta-feira out 9, 2015

DIÁRIO DO FESTIVAL DO RIO

DIAS 6 e 7 – 4ª e 5ª FEIRA – 06/10 e 07/10, por Gilberto Silva Jr. 

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GREEN ROOM de Jeremy Saulnier (EUA, 2015)

Nos últimos anos, o cinema americano não tem sido pródigo em revelar valores que dominem com consistência a linguagem dos thrillers que absorvem elementos de violência. A grande maioria parece seguir uma fórmula burocrática e infantilizada. Como se pode perceber com esse terceiro longa-metragem, Jeremy Saulnier consegue remar contra essa corrente. O argumento carrega um clima de tensão contagiante em sua secura e simplicidade: após um show em um reduto de extrema-direita num buraco white trash do interior dos EUA, uma banda de rock testemunha, involuntariamente, um assassinato e se vê cercada em um camarim. Saulnier absorve bem os parâmetros definidos pelos grandes mestres, com o grupo acuado em um espaço reduzido – algo recorrente em toda obra de John Carpenter -, tendo que usar da violência e se animalizar para sobreviver, naquilo que se define como uma releitura atualizada do Sam Peckimpah de Sob o Domínio do Medo (1971). Com sua fala habitualmente mansa, Patrick Stewart constrói um vilão realmente assustador. Resta a Saulnier, no futuro, ir criando e sedimentando seu estilo pessoal, construindo uma trilha não tão dependente dos autores que lhe trazem inspiração.

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A ACADEMIA DAS MUSAS (La Academia de las Musas), de José Luis Guerín (Espanha, 2015)

Já o cinema do catalão José Luis Guerín, ao menos se considerarmos os filmes aos quais assisti (além deste em questão, Na Cidade de Sylvia, de 2007), não se parece com nada que já tenha sido visto antes. Guerín é hábil em não delimitar nestes trabalhos as linhas entre ficção e documentário. Se o tema de A Academia das Musas, em sua essência, é o lugar da poesia no mundo, a forma como o diretor explora o seu tema é de uma originalidade difícil de definir. Longas palestras se misturam com conversas pessoais que vão aos poucos definindo as relações entre personagens: o mestre, sua esposa e suas pupilas. Com muita ironia, Guerín questiona como conjugar na prática da vida a teoria que inspira a experiência acadêmica e como estas, no fundo, acabam se tornando indissociáveis. A personagem da esposa funciona como interessante guia para se relativizar as questões apresentadas nas palestras. Mesmo com alguns momentos redundantes, Guerín constrói uma experiência cinematográfica única e consolida alguns itens que estiveram na base de Na Cidade de Sylvia: a interação da câmera com o espaço urbano, pois muitos dos diálogos são filmados através de vidros que refletem a movimentação da cidade de Barcelona, além de sua intimidade inquestionável para filmar mulheres bonitas.

 

 

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