Festival do Rio – Dias 4 e 5
DIÁRIO DO FESTIVAL DO RIO
DIAS 4 e 5 – SEGUNDA – 05/10 e TERÇA 06/10, por Gilberto Silva Jr.
* Na verdade, os comentários abaixo se reportam a filmes assistidos no dia 6, já que nada foi visto no dia 5
TRANSTORNO (Maryland), de Alice Winocour (França, 2015)
Desde que estourou com o filme Bullhead (2011), o ator belga Matthias Schoenaerts ficou tipificado por personagens densos e torturados. Sua composição em Transtorno não foge ao padrão. Temos aqui um soldado com distúrbio pós-traumático após servir no Afeganistão que, enquanto se recupera, arruma um trabalho de segurança na casa de um empresário de origem árabe. A diretora Winocour se aproveita de temas contemporâneos e do confuso estado psicológico do protagonista para fazer um thriller rotineiro e sem maiores atrativos, para o qual assistir ou não acaba não fazendo muita diferença.
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CALIFORNIA, de Marina Person (Brasil, 2015)
O cinema de temas adolescentes tem como pressupostos uma série de redundâncias tão inerentes ao gênero, como assim são repetitivos os padrões de comportamento dessa faixa etária. Em sua estreia na direção, Marina Person se apropria desses códigos com bastante conhecimento de causa. Seu Califórnia, que não nega o tom autobiográfico, retrata com alguma eficácia como era, para uma menina de classe média, amadurecer em São Paulo em meados da década de 1980. As referências da época, de fato vivenciadas pela autora, estão todas muito bem colocadas, e enriquecem um filme que, na essência, acaba sendo bastante envolvente, mas nunca surpreende. As atuações tatibitate de alguns jovens coadjuvantes e determinadas brechas no roteiro (em especial quanto ao pai da protagonista, que mingua na segunda metade) são alguns pontos baixos nesse filme que transborda paixão, mas não é tão bem sucedido em sedimentar o universo adolescente no cinema brasileiro como foram os anteriores Hoje Eu Quero Voltar Sozinho e Depois da Chuva.
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RIGHT NOW, WRONG THEN de Hong Sang-Soo (Coréia do Sul, 2015)
É impressionante como, depois de 17 longas-metragens de ficção, Hong Sang-Soo não se desvia um milímetro sequer de sua proposta de cinema, que vai sendo sequencialmente aperfeiçoada. Right Now, Wrong Then é daqueles filmes que elevam as idéias fixas de um autor ao grau de perfeição. Os longos diálogos, as bebedeiras, as relações não consumadas seguem onipresentes nesse filme onde Hong em dois tempos narrativos que recontam a mesma história, consegue situar ao nível de genialidade a discussão sobre “o que é, o que foi e o que poderia ter sido” sem nunca abrir mão de seu habitual bom-humor. O roteirista e diretor, que é inegavelmente o maior criador de diálogos do cinema contemporâneo, traz aqui um número ainda menor de planos, sendo estes ainda mais longos que aqueles que costumava trabalhar nos filmes anteriores. Há dez anos, no primeiro texto que escrevi sobre Hong Sang-Soo, eu disse que seu cinema era essencialmente uma mistura de Woody Allen com Eric Rohmer. A afirmação continua válida, mas se o anterior Hill of Freedom - também exibido no Festival do Rio 2015 – era seu filme mais Allen, Right Now, Wrong Then é seu filme mais Rohmer.
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MON ROI, de Maïwenn (França, 2015)
Polissia, o trabalho anterior de Maïwenn, retratava numa trama de eventos paralelos o cotidiano de uma delegacia especializada em casos de maus-tratos de crianças. Poderia funcionar bem como piloto de série, uma espécie de LawAnd Order SVU versão França. Com este recente Mon Roi, a diretora centra sua abordagem no estudo de um caso que muito bem poderia resultar em um crime a ser investigado pela suposta série. O filme retrata com detalhes o histórico de uma relação abusiva entre um egoísta manipulador e uma idiota passiva-submissa. Vincent Cassel e Emmanuelle Bercot (premiada em Cannes) se entregam intensamente aos personagens, mas não há no mundo boas atuações que tornem suportáveis mais de duas horas acompanhando a existência de duas figuras que não despertam nada além do mais profundo desprezo.
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