Ano VII

Festival do Rio – Dia 1

domingo out 4, 2015

DIÁRIO DO FESTIVAL DO RIO

DIA 1 – SEXTA-FEIRA – 02/10, por Gilberto Silva Jr.

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BOMBAY VELVET, de Anurag Kashyap (India, 2015)

Com cinco minutos de filme, o indiano Kashyap já deixa claro, ao exibir sequências de Heróis Esquecidos, de Raoul Walsh (1939), que seu Bombay Velvet  irá se desenvolver sobre forte matriz referencial de gênero. Estamos, então, diante de um filme Bollywood de gangster, onde os números musicais característicos do cinema popular indiano se apresentam aqui como números de palco. O roteiro traz a trajetória de Johnny Balraj como criminoso e dono de boate, apadrinhado por um figurão, e seu romance com a cantora Rosie. No entanto, as linhas que separam referências, pastiches e clichês são demasiado tênues e o diretor não define a maior parte do tempo em que território vai se fixar. Apesar de demonstrar uma certa competência em conceber suas imagens e de uma montagem concebida com capricho (com a colaboração da mestre Thelma Schoonmaker), alguns de seus excessos levam a algum cansaço, seja pela enxurrada incessante de citações – que vão dos óbvios Scarface e O Poderoso Chefão, passam por um visual com pitadas de David Lynch na boate que dá nome ao filme, e chegam a uma trama de especulação imobiliária que remete a As Mãos Sobre a Cidade, de Francesco Rosi (1963) – seja pela projeção longa. Ainda assim, minimamente curioso.

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PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS (La Isla Minima), de Alberto Rodríguez (Espanha, 2014)

Se o título para lançamento no Brasil deste policial espanhol já entra direto para o “febeapá” das traduções bizarras para o português, o maior questionamento depois de assisti-lo fica no que tange às razões que levaram o filme a ser tão bombado em sua terra natal, onde recebeu infinitos prêmios e aclamação crítica. Estamos diante de um drama de investigação que até trabalha bem a gramática do gênero: dupla de policiais de temperamentos conflitantes, assassinatos misteriosos em uma comunidade fechada e de tipos bizarros, reviravoltas bem orquestradas. Tudo levando o espectador a manter-se interessado, ou até mesmo envolvido, mas nenhuma pisada degraus acima do esperado. As referências à situação política e social da Espanha na época na qual se passa a narrativa – 1980, pouco depois da transição democrática, com a permanência dos fantasmas da ditadura franquista – funcionam como temperos que complementam o filme, mas não o definem. Saltam aos olhos os pontos de contato com a primeira temporada de True Detective (2014), com sua dupla de policiais torturados e de passado nebuloso, os crimes de teor sexual e ritualístico e o visual que explora paisagens ermas e pantanosas, como também os planos de carros percorrendo estradas infinitamente retas e desertas.

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TIKKUN, de Avyshai Sivan (Israel, 2015)

Tikkun é daqueles filmes que provocam uma inequívoca sensação de estranhamento. Em especial pelo universo que aborda, uma comunidade de judeus fundamentalistas. Sivan usa do jovem Haim-Aron e de seu pai para explorar as consequências e violências internas desse fundamentalismo, ressaltando o absurdo dos comportamentos aos quais essas práticas podem levar. Sua opção narrativa é pelo preto-e-branco e pelos planos longos e estáticos, chupados de uma matriz já ultra desgastada, que remete aos filmes de Jim Jarmusch dos anos 80, alternando passagens de absurdo e pesadelo, com muita fumaça e neblina nos minutos que antecedem o final. Alem disso, a falta de intimidade com as referências internas do grupo retratado parece prejudicar até certo ponto a fruição do filme por parte do espectador, que sente em alguns momentos estar diante de momentos com tom cômico, ficando, porém, sem saber ao certo do que achar graça. Certamente um filme com uma proposta instigante, mas que se esgota em curto espaço de tempo, seja pela redundância do roteiro, seja pela opção por soluções narrativas datadas.

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MADONNA, de Shin Su-Won (Coréia do Sul, 2015)

Apesar de cinematografia sul-coreana ser berço de alguns dos melhores cineastas em atividade no momento (como o deus Hong Sang-Soo), a cineasta Shin Su-Won opta aqui por seguir a matriz definida pelo pior de todos, o nefasto Kim Ki-Duk, cuja obra – que há mais de uma década deixei de acompanhar, vale ressaltar – se configura num bestiário de tudo que pode existir em termos de mau gosto cinematográfico. Madonna começa como um suspense claustrofóbico, segue com uma trama de investigação e reencontro com o passado, e acaba como um dramalhão de absurda pieguice. Sempre explorando da forma mais cafona possível uma trama que abusa dos abjetos recursos calcados numa dramaturgia da humilhação. Um novo clássico da ruindade cinematográfica que dificilmente será superado na láurea de pior filme exibido no Festival.

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