Ano VII

Acima das Nuvens

terça-feira nov 4, 2014

 Kstewartfans

Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014), Olivier Assayas.

Com Acima das Nuvens, Olivier Assayas, reforça aquilo que muitos já sabiam: seu enorme talento como diretor. Assayas mantém uma sequência longa de bons e diferentes filmes, não tem se prendido em fórmulas seguras e a cada filme demonstra uma maior maturidade na encenação, na direção de atores e no controle da narrativa. Se os seus filmes anteriores transitavam pela política, de modo mais pessoal em Depois de Maio, e mais histórico em Carlos, o seu tema em Acima das Nuvens é o tempo e as marcas dele sobre uma atriz, Maria Enders interpretada por Juliete Binoche.

Enders é convidada para refazer a peça que a consagrou, mas não mais no papel da jovem heroína e, sim, da antagonista mais velha. Mudar de papel, aceitar a idade e entender o novo tempo, eis algumas das questões levantadas por Assayas.

De certa forma, a imagem da mulher e atriz em confronto com sua idade remete à obra primas do cinema, Persona de Bergman, Noite de Estreia de Cassavetes, entre outras. Assayas se sai muitíssimo bem ao tratar do tema, porque a crise que assalta a personagem é desdobrada no filme não só pela relação dela com a assistente Valentine, genialmente vivida por Kristen Stewart; não só pelo retorno ao texto que a consagrou, mas – e, sobretudo -, por uma profunda desorientação de Sanders em relação aos novos tempos, novos papeis e novas narrativas que lhe são oferecidas e com os quais ela vai precisar aceitar e lidar para se reconstruir.

O envelhecer se torna ainda mais cruel quando a imensidão da natureza – boa parte do filme se passa nos Alpes suíços – dá à estrela decadente a sua real dimensão. As metáforas que o filme constrói com a formação de nuvens da região, longe de serem gratuitas ou meramente adornos para dar consistência à crise de identidade de Anders, acabam remetendo à gratuidade da existência, levada a cabo com o suicídio do autor da peça ou via desaparição, depois que submetida ao anonimato servil, caso de Valentine.

Sutil, irônico e “levemente denso”, Acima das Nuvens, é um filme de atrizes e de um diretor cada dia mais maduro. De um realizador que, como a atriz do filme, precisa se reinventar para sobreviver diante de um tempo que envereda, cada vez mais, por narrativas esvaziadas de subcelebridades, em submundos virtuais, recheados de androides, figuras hibridas com poderes mágicos e outras banalidades.

Aceitar a terra tendo em vista aquilo que está acima das nuvens, eis a grande imagem deste último e belo filme de Assayas.

Cesar Zamberlan

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