Ano VII

Rhino Season

segunda-feira out 27, 2014

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Rhino Season (Fasle Kargadan, 2013), de Bahman Ghobadi

Há dois períodos distintos dentro de Rhino Season. O primeiro é o da reaclimatação de Sahel, que acaba de sair da prisão após 30 anos (se é que podemos sequer usar “reaclimatação” para o que acontecerá com o poeta curdo-iraniano, detido logo após a a revolução islâmica, em 1979). O segundo é o reencontro, no qual não há nada de idílico, de Sahel com coisas do passado, em especial sua mulher, que pensa que ele está morto há mais de duas décadas.

Essa reaclimatação – ok, abandonemos essa palavra feia; sigamos com “volta ao mundo dos vivos”  – é o que há de mais forte no filme de Bahman Ghobadi (Tartarugas Podem Voar, Ninguém Sabe dos Gatos Persas). É nela que o diretor relaciona a impossibilidade de um presente por causa de um passado violento. Em vez de separar esses tempos, Ghobadi os sobrepõe ali, na mesma tela, misturando duas matérias híbridas. Por conta desse esforço criativo é que o filme nos entrega momentos fortes até a primeira meia hora.

A força de Rhino Season diminui quando passa a separar, de fato, esses dois tempos, colocando o presente em foco. Priorizam-se as ações dos personagens e uma elucidação dos fatos – usa-se o recurso do flashback. Toma o protagonismo a reflexão do conjunto, o que significa estar preso por 30 anos – e aí a força já não é mais estética, mas sim política (num sentido mais estrito de política, voltado para o conteúdo).

Quanto maior o desapego de Ghobadi pelo realismo, mais ele chega próximo em escancarar um estado de espírito, uma existência massacrada, sem qualquer possibilidade de reconstrução. Sahel mantém-se vivo não pela esperança de se reencantar pelo mundo dos vivos, mas apenas para executar um objetivo muito simples. A liberdade com convenções realistas não funciona a todo momento, mas é preferível esse esforço do que uma prisão aos fatos e ao choque – como fez Batismo de Sangue, por exemplo.

Rhino Season encontra um difícil equilíbrio ao moldar elementos conflitantes: sensibiliza sem flertar despertar a abjeção e articula-se como político sem pregar uma ditadura da mensagem.

 Heitor Augusto

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