A História da Eternidade
A História da Eternidade (2014), de Camilo Cavalcanti
Há bons curtas vindos de Pernambuco. Posso citar, de cabeça, Praça Walt Disney, Faço de Mim o Que Quero e os curtas de Kleber Mendonça Filho. Mas não há, a meu ver, um longa sequer que confirme a suposta superioridade, bastante alardeada ultimamente, do cinema pernambucano. Alguns longas, quando revistos, revelam-se mais frágeis, ainda que continuem interessantes. É o caso, por exemplo, de O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, e Tatuagem, de Hilton Lacerda. Nesta mostra surgiu mais um digno, ainda que cheio de problemas: Permanência, de Leonardo Lacca. E podemos falar ainda de Boa Sorte, Meu Amor, de Daniel Aragão. Mas filme forte mesmo, que se imponha cinematograficamente, sem auxílio de coisas externas, infelizmente, não há.
Talvez seja necessário se deslocar um pouco na geografia nordestina para encontrar, no cinema baiano, ao menos dois longas mais fortes que qualquer longa pernambucano desde a retomada: Depois da Chuva, de Claudio Marques e Marília Hughes, e, principalmente, O Homem Que Não Dormia, de Edgard Navarro.
Mas não é o caso de invocar aqui uma rivalidade regional que nem sei se existe. O problema é outro: a celebração excessiva, e a consequente paralisação (ou acomodamento, ou o nome que preferirem) que esse excesso provoca.
A História da Eternidade, do estreante em longas Camilo Cavalcanti, vem ganhando prêmios e elogios por onde passa, mas é um bom exemplo dessa potência que está sempre por se concretizar.
O filme começa bem, com imagens ritualísticas, de forte rigor formal, e uma inversão do que se espera do sertão nordestino quando retratado no cinema. Vemos a história de três mulheres de gerações diferentes: a adolescente que sonha em conhecer o mar (Debora Ingrid), a mulher de meia idade em crise (Marcélia Cartaxo); a senhora que sente uma atração estranha pelo neto (Zezita Matos).
Existe ainda um pária (Irandhir Santos, ator quase onipresente em filmes da nova safra; não existem mais bons atores?), exilado de qualquer coisa, um homem que de alguma forma é tanto um oráculo – para a menina que é apresentada por ele ao mar, de uma maneira lírica (embora seja aquela poesia a priori que não vai muito longe) – quanto alguém indesejado no local (ele leva surra de pau porque a menina retribuiu de forma carnal à poesia por ele demonstrada).
Tudo começa a ruir após alguns minutos de filme, mais especificamente a partir da performance desse homem exilado para “Fala”, canção dos Secos e Molhados. A cena foi pensada como um momento catártico, um show particular e destoante do ator. A câmera é mais performática que o artista. Seu movimento constante e incerto tenta, sem sucesso, atingir o que a performance do artista não consegue: encanto.
Daí em diante, predominam situações que parecem existir unicamente para reivindicar ao filme a qualificação de ousado. Aquele tipo de ousadia apadrinhada automaticamente por plateias de festivais, que parecem querer dos filmes sempre a mesma coisa.
Sérgio Alpendre
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