Ano VII

Amor à Primeira Briga

domingo out 19, 2014

Adele LesComb6

Amor à Primeira Briga (Les Combattants, 2014), de Thomas Cailley

Prêmio da Crítica na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes esse ano, Les Combattants ganhou no Brasil o horroroso nome de Amor à Primeira Briga. O título, que remete a nome de filme da sessão da tarde, é uma tradução do título em inglês Love at First Fight e não faz jus a um filme que não merece ser rotulado como uma simples comédia romântica, o que, de certa forma, soa como algo pejorativo.

Thomas Cailley que estudou roteiro na prestigiada escola francesa de cinema Femis estreia na direção com um filme cuja estrutura dramática e construção dos personagens é, de longe, a maior das virtudes. Colabora para isso também a escolha certeira dos atores que interpretam os dois protagonistas do filme: Madeleine, a cargo da promissora e bela Adèle Haenel, que venceu o Cesar de melhor atriz coadjuvante em 2014 com o filme Suzane de Katell Quillévéré, um dos destaques da Mostra do ano passado, e Arnaud, interpretado por Kévin Azaïs.

Diferente do cinema francês que mais conhecemos por aqui, Les Combattants está longe de ser um filme denso e muito menos verborrágico. E, ainda que dê conta de um tema atual do cinema francês, a falta de perspectivas em relação ao futuro, situação que acaba por unir os dois jovens, Madeleine e Arnaud, tal questão é esboçada no filme pelo avesso, por meio de situações curiosas que os jovens inventam para dar algum sentido à vida, caso do curso numa brigada especial do exército francês.

Madeleine, uma personagem bastante rica e explosiva, o que mantém o filme em constante suspensão, se prepara de todas as formas para sobreviver a qualquer hecatombe; Arnauld, um pouquinho mais realista, se coloca ao lado da jovem de maneira mais humilde, à sombra, amparando-a quando necessário, pois intui, dada a sua condição social mais humilde, que uma vida sem muito sentido pode ser vivida se a ansiedade por algo maior, até mesmo uma hecatombe, for controlada como a respiração.

Sutil, singelo e falsamente raso, o melhor momento do filme é quando o casal após encontrar seu éden particular se vê perigosamente diante da tão sonhada situação limite, tendo aí, sim, que enfrentar a situação de risco.

Amor à Primeira Briga não é o grande filme da Mostra, mas também está longe de ser uma comedinha romântica ou uma mera sessão da tarde.

Cesar Zamberlan

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