Ano VII

O Idiota

domingo out 19, 2014

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O Idiota (Durak, 2014), de Yuriy Bykov

Vencedor de quatro prêmios no último festival de Locarno, O Idiota narra, sem qualquer preocupação com sutilezas (algo característico da cinematografia russa contemporânea), o martírio de uma mente inocente frente a um mundo podre.

O personagem principal é um simples encanador, pai de um bebê, bom marido, filho prestativo e, sobretudo, dedicado aos estudos, tentando, assim, melhorar sua vida e a de sua família. Após receber uma chamada de emergência no meio da noite, é encaminhado a um vilarejo por ele desconhecido. Neste amontoado de edifícios decadentes e moradores à margem da sociedade, percebe claramente que um dos prédios (habitado por aproximadamente oitocentas pessoas) está prestes a cair.

Dotado de uma pureza só compartilhada por seu pai (mas, diferentemente deste, disposto a lutar por aquilo que considera justo, em vez de apenas acatar a esposa e tratar de pequenas melhorias no seu ambiente como, por exemplo, passar a noite a consertar um banco público), o jovem decide, contra todos ao seu redor, ir atrás dos responsáveis por estas pífias construções.

O que segue então é a luta de um Davi moderno contra um enorme e inabalável Golias e, como se tal antagonismo não bastasse (o homem humilde e honesto contra políticos poderosos e corruptos), os diálogos explícitos ao ponto de tornarem-se involuntariamente cômicos e os coadjuvantes caricaturais, em sua maioria bêbados, obesos, velhos e misóginos, só fazem reafirmar a injustiça e a impossibilidade de integridade naquela – ou, por extensão, em qualquer outra – sociedade.

Se até aqui Yuriy Bykov está próximo de outros conterrâneos exaltados por considerável parcela da crítica, sua condução, entretanto, foge do apuro estético buscado por seus pares. Neste sentido – mas longe de somente -, O Idiota traz à mente algumas produções do fatídico Dogma 95, escapando dessa filiação, mais expressamente, por uma bizarra utilização de trilha-sonora que, ao tentar comover, acaba apenas por constranger.

A um roteiro disposto abertamente a exibir nossa ampla devassidão, o cineasta talvez tivesse se saído melhor optando ou bem por assumir seu pouco contido cinismo, ou bem afinando a missão de seu romântico herói para, deste modo, realizar um melodrama moral com inclinação humanista – pensando novamente, talvez seja mesmo melhor o filme assim: ruim do jeito que é.

Bruno Cursini  

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