Ano VII

Tesouro escondido – Cressida

quarta-feira nov 23, 2011

Cressida – Cressida (1970)

O que seria de nós sem a Vertigo? O selo histórico da espiral foi responsável por uma série de discos brilhantes na virada dos anos 1960 para os 70. Este primeiro do Cressida é um deles, uma verdadeira pérola escondida de todos até que a Repertoire resolveu lançá-lo em CD. O que seria de nós sem a Repertoire, que recuperou este e outros discos essenciais do selo Vertigo no início dos anos 1990 (cerca de vinte anos, portanto, de seu apogeu)?

Cressida é uma banda inglesa de sonoridade semelhante à do Moody Blues (alguns apontam semelhanças com Caravan, o que também procede), principalmente pela voz maravilhosa de Angus Cullen, muito parecida com a de Justin Hayward (e, um pouco menos, com a de Richard Sinclair, do Caravan). Podemos dizer, na verdade, que Cressida é mais progressivo (com alguns toques jazzísticos) que o Moody Blues, graças ao trabalho do órgão de Peter Jennings, ainda que neste primeiro disco eles estejam com um pé preso na psicodelia dos anos 1960. Há, contudo, uma tendência ao sinfônico, atenuada pelas melodias suaves e a duração das faixas (geralmente mais curtas que o habitual no rock progressivo). Enquanto no Moody Blues a coisa pende mais para o space rock, com um inacreditável wall of sound transposto para esse universo.

Difícil apontar destaques. O disco é tão coeso e inspirado que parece uma coletânea muito bem escolhida de alguma banda clássica do final dos anos 60. Pressionado, posso indicar “Home and Where I Long to Be”, que vira e mexe invade meus pensamentos com muita força, graças à guitarra levemente funkeada do ótimo John Heyworth (e também à sua linda introdução dedilhada), e à voz que a ficha técnica credita excepcionalmente a Heyworth, mas que parece demais a de Cullen. Ou a faixa título (do álbum e da banda), com seu refrão inacreditável. Ou ainda a magnífica “Depression”, que começa lembrando o Genesis do primeiro disco, From Genesis to Revelation (1969), mas revela uma guitarra ensandecida de Heyworth (inimaginável na estreia da banda de Peter Gabriel), e acaba sendo uma das mais progressivas do disco. Mas não posso esquecer da mágica “One of a Group”, ou da melancólica “Down Down”. E mesmo da antológica faixa final, de nome emblemático: “Tomorrow is a Whole New Day”.

Quer saber? O destaque vai para todas, e para o fato de um disco delicado e bonito desses ter sido lançado em 1970, no começo do reinado do rock pesado de Led Zeppelin e Black Sabbath, que por sinal também era da Vertigo (aliás, o primeiro do Sabbath e o primeiro do Cressida foram ambos lançados em fevereiro).

O segundo e último LP do Cressida, Asylum, é mais progressivo, com proeminência do mellotron e faixas mais longas. E apesar de não ser tão bom quanto esta estreia (o que seria bem difícil), compõe brilhantemente uma das carreiras mais consistentes e lamentavelmente curtas do gênero.

Sérgio Alpendre

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