Uma Família em Tóquio
Uma Família em Tóquio (Tokyo Kazoku, 2013), de Yoji Yamada
Atualizar um filme de Yasujiro Ozu para os nossos dias não é algo que fique impune. E logo Era uma Vez em Tóquio. Talvez porque a tocante fábula sobre um casal de idosos do interior visitando seus filhos em Tóquio parece fácil de encaixar em qualquer época. Modernizar o filme não é o ponto. Não se moderniza nenhum filme de Yasujiro Ozu. Eles nasceram modernos e como tal para sempre permanecerão. O que propõe o conterrâneo Yoji Yamada ao clássico – para muitos o maior – de um dos principais cineastas da história?
Com mais de 70 filmes em sua filmografia, sendo que 48 deles pertencem a saga Tora-san (É Triste ser Homem), Yoji Yamada nunca deixou de ser um artesão competente, ora menos, ora mais. Sua recente trilogia samurai levou críticos saudosos dos bons tempos do cinema japonês, a aplaudir de pé os três dramas chambara de Yamada. Nenhum deles se mostrou brilhante, talvez no máximo lembrassem algum melodrama de época de segunda linha dos anos 1960. Isso bastou para dar ele o status de sobrevivente da última grande geração do cinema nipônico. Deve respeitar a longevidade da carreira e o tom sóbrio dos seus filmes, mas não há chance alguma de nivelamento para com os cineastas clássicos mais prestigiados, ou com a Nuberu Bagu, ou mesmo nomes sem filiação como Kaneto Shindo ou Kon Ichikawa.
A versão de Yamada procura seguir os mesmos caminhos da obra-prima de Ozu, sem conseguir chegar ao brilhantismo do original. Quando faz mudanças, elas são facilmente perceptíveis para quem conhece Era uma Vez em Tóquio. Não é justo julgar a obra de Yamada comparando com a de Ozu, só que ao mesmo tempo, como não o fazer? Neste remake, avó conversa com o seu neto mais novo. É um diálogo bem curto, que ao final demonstra a preocupação (e certa decepção) da idosa para com o futuro deste menino. Ozu na cena correspondente, prefere criar um monólogo da avó, sem a participação da criança, que está quase que alheia a presença da mulher. A força dramática não tem igual. Ozu fazia cinema moderno nos anos 50, Yamada faz melodrama bem feito no século XXI. Não é pouca coisa. Mas também não vai além disso.
Quando o idoso olha para um parque de diversões, ele se recorda de quando assistiu a O Terceiro Homem, estrelado por Orson Welles. E ficamos por aí, pois a cena não quer dizer nada, a não ser uma tentativa frouxa de Yamada de homenagear outro gigante do cinema. Sua carreira começou justamente como assistente de Ozu em… Era uma Vez em Tóquio. Mais de 50 depois, o ciclo está completo apesar de Yoji Yamada continuar filmando (sua mais recente produção foi exibida em Berlin). Uma Família em Tóquio é um filme agradável, simpático, conciliador. Muito diferente do cotidiano aparentemente frugal, mas desconcertante de Ozu. Dizem que à primeira vista os filmes de Ozu são todos iguais. Eu diria que a teoria se aplica mais ao Yamada.
Leandro Cesar Caraça
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