O Hobbit: A Desolação de Smaug
O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug, 2013), de Peter Jackson
A decisão de Peter Jackson em transformar sua adaptação do livro O Hobitt em três filmes – contrariando o plano inicial em fazer dois – diz respeito a lógica de cinema que ele segue desde que levou Tolkien às telas pela primeira vez. Junto de um espetáculo inflado, que usa de uma longíssima duração para coroar sua existência, haverá algo que lembre um videogame, seja numa luta ou em algum momento com os personagens fugindo de um perigo. Não vamos colocar em discussão a maneira como Jackson que forçar os 48 frames por segundo goela abaixo dos espectadores. Mas esse é apenas outro sintoma de como o diretor acabou deixando o cinema em segundo plano diante da pirotecnia desenfreada e tecnologia ponta. Aquele artista de antes agora reaparece ocasionalmente.
Comparada ao primeiro filme, esta nova aventura se mostra mais dinâmica, com vários personagens ganhando enfim alguma dimensão. No anterior, apenas o mago Radagast conseguiu ter alguma carisma. Jackson continua com os mesmos cacoetes, como os giros de 360º ou rasantes que a câmera precisa dar para que se mostre as vastas planícies e os perigos que existentes na Terra Média. A verdade é que nos filmes de Jackson, a magia não está presente de maneira integral naquele mundo, não parece algo presente no ar. Ela existe na hora em que o parque de diversões do diretor abre as portas, e mesmo assim ficamos com uma sensação de artificialidade. Raros são os momentos em que nossa crença não está associada aos efeitos especiais na sensação de que está faltando um controle para escolher um dos personagens e participar do jogo.
Dentro das quase duas horas e quarenta minutos do filme, algumas partes conseguem se destacar mais. A sequência das aranhas gigantes tem sucesso graças ao passado de Peter Jackson com o cinema de horror. O encontro do mago Gandalf com o poderoso Sauron também fica degraus acima da monotonia habitual. Na parte final, a aparição do dragão Smaug faz com que o filme se encerra de uma maneira positiva. Se aqui temos a equipe de efeitos se esforçando para criar o dragão mais impressionante das telas desde O Matador de Dragões (Matthew Robbins, 1981), por outro toda longa cena de perseguição e combate com a tropa dos anões dentro de barris descendo a correnteza de um rio, sendo perseguidos por elfos e orcs, rebaixa o cinema a nada mais do que um chamariz para adolescentes que idolatram um X-Box.
Leandro Cesar Caraça
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