Pronto Para Recomeçar
Pronto Para Recomeçar (Everything Must Go, 2010), de Dan Rush
Adaptação do curtíssimo conto “Why don’t we dance?”, de Raymond Chandler, o que Pronto para Recomeçar faz, na realidade, é apenas explorar a imagem principal daquele texto: em um típico subúrbio americano, um alcoólatra distribui seus móveis e objetos pessoais no gramado da fachada de sua casa.
De resto, o filme não poderia ser mais trivial: um homem com problemas “tanto no pessoal quanto no profissional” (já diria o filósofo) percebe que, desamarrando-se de seus pertences (seu passado) poderá, enfim, tentar uma nova vida, do zero. É aquela coisa de auto-ajuda: tentar converter uma situação de adversidade a seu próprio benefício.
O pequeno problema é que este é o final do filme, sua última cena, ao som d’A Banda com a bela canção de Bob Dylan, “I shall be released” – que apenas a agulha da vitrola deste filme encontra abrindo o lado de qualquer que seja o LP (é aqui que entro com o aviso de spoiler ou agora já é tarde?). Para chegarmos a esse construtivo término, acompanhamos nosso herói desde o início de sua descensão, quando é demitido de seu emprego para, em seguida, constatar que fora despejado pela esposa, que agora pede o divórcio.
Neste ponto, já sabemos que o filme é sobre uma dessas (imediatamente reconhecíveis) personagens problemáticas, para as quais tudo ocorre na cômoda lógica de causalidade. No caso, o abuso de álcool é o único problema de um homem que, no fundo, tem uma boa índole, ou melhor, como diz uma personagem do filme, um “bom coração”. Tal “porém” é herança de uma infância difícil, culpa do pai, evidentemente, também um viciado.
Dirigido pelo estreante Dan Rush, Pronto para Recomeçar não é tão ruim quanto esse último parágrafo pode ter feito parecê-lo. É apenas uma espécie de Jason Reitman propositalmente menos engraçado, com Will Ferell fazendo-o de veículo para explorar sua verve “séria” e, talvez, se legitimar como ator dramático.
Bruno Cursini
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