Blue Jasmine
Blue Jasmine (2013), de Woody Allen
A crise financeira de 2008 finalmente atingiu os personagens de Woody Allen, mas dizer que o cineasta chegou atrasado ao tema seria um pouco demais. Afinal, os acontecimentos são recentes, e poucos os filmes até agora se preocuparam em retratar essa crise. As Vinhas da Ira (John Ford, 1940) não surgiu logo após a Crise de 1929, mas foi sem dúvida o filme que melhor retratou as condições do trabalhador rural estadunidense do período. O clima de lenta recuperação que permeia o governo Obama deve continuar (por ora) afastando Hollywood do assunto.
Há quase uma década, Woody Allen tem transitado entre dois continentes e conseguido manter uma regularidade – entre obras medianas e excelentes – que sempre me causa surpresa quando dizem que o diretor voltou à boa forma ou então recuperou-se de fracassos anteriores. Tudo bem que Para Roma com Amor (2012) era um Allen de segunda linha, mas passou longe de ser um filme ruim ou que merecesse as linhas raivosas que grande parte da imprensa reservou a ele. A crítica mal acostumada parece sempre exigir o máximo de um cineasta prolífico, ainda mais em tempos em que a ruindade cinematográfica se alastra. Essa atitude de urgência leva a avaliações equivocadas, colocando filmes medíocres nas alturas e deixando obras menores (e boas) esquecidas.
Blue Jasmine não é o melhor filme de Woody Allen dos últimos vinte anos e nem uma volta em grande estilo porque a sua travessura romana não foi sem valor, pelo contrário. Trata-se de um dos filmes mais políticos do diretor e que não apresenta qualquer sinal de simpatia para com a elite. Jasmine (Cate Blanchett, em atuação sublime) é a socialite nova-iorquina arruinada e sempre à beira de um colapso mental que vai se abrigar com Ginger, a irmã adotiva (Sally Hawkins) em São Francisco. A mesma que teve seu casamento e a situação financeira arruinados por causa do falecido marido especulador de Jasmine. A situação momentânea se deve mais ao fato de Ginger ser uma boa samaritana do que aos sentimentos positivos que ela possa nutrir pela irmã de nariz empinado.
Em sua tentativa de ascender socialmente e deixar de morar de favor com a irmã suburbana, Jasmine se mostra fadada ao fracasso desde o início. Diferente de Tudo Pode Dar Certo (2009), em que tínhamos também uma perua arruinada e que se transforma para melhor depois da mudança para a cosmopolita Nova Iorque, a personagem de Cate Blanchett não se mostra capaz de interagir e aprender com este novo mundo a sua volta. Como em vários filmes de Woody Allen, às vezes nada vai dar certo. Mais do que simplesmente citar/adaptar Um Bonde Chamado Desejo, de Tenessee Williams, o diretor mantém vivo o seu lado cruel, fazendo de Blue Jasmine um dos seus trabalhos mais brutais. O romantismo e a esperança presentes em Nova Iorque ou Paris não se encontram em São Francisco.
Leandro Cesar Caraça
© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br