Escudo de Palha
Escudo de Palha (Wara no Tate, 2013), de Takashi Miike
Com quase uma centena de filmes em seu currículo, Takashi Miike ainda se mantém como um dos cineastas japoneses mais conhecidos da atual geração. Perfeitamente alojado no esquema de produção dos grandes estúdios, ele parou de filmar quatro ou mais filmes por ano. Sua média caiu para dois e meio, e os resultados nem sempre costumam agradar como acontecia antes.
Não que Miike tenha desaprendido a filmar, mas agora que as regras mudaram, precisa se adequar às novas regras do mercado. O nicho das produções baratas sobre yakuzas, que o ajudou em seus anos de formação como cineasta, por exemplo, já não existe mais. Obras insanas e violentas como Ichi The Killer (2001) não pertencem ao mainstream de agora e só encontrarão lugar nesses independentes responsáveis por todo tipo de tralha que afogou o que um dia foi um dos melhores cinemas de gênero da história. Takashi Miike não se vendeu, vamos ser bem claros, e continua produzindo filmes bons, ainda que não na quantidade de antes. O número de bons diretores que, de uns dez anos para cá passaram a sujar seus nomes é lastimável. Miike nunca chegou a esse ponto.
A qualidade de muitos diretores artesãos está diretamente ligada à fase boa ou ruim em que o cinema local se encontra. Miike nunca escondeu ser somente um cineasta operário, que acabou escolhendo a profissão na falta de algo melhor. O fato de ter enfileirado dezenas de filmes, que variavam do interessante ao sublime, também dizia respeito às chances que o mercado lhe proporcionava. De braços dados com o cinema classe A, sobra menos espaço para que uma coisa como Audition (1999) surja. No ano passado, Lesson of Evil deixou claro que Miike ainda tem muito para mostrar, basta que alguém lhe dê permissão.
Realmente uma pena que justo Escudo de Palha tenha sido selecionado para a Mostra de SP, ao invés de Lesson of Evil ou do romance-musical-juvenil For Love’s Sake (2012). Sem dúvida alguma, o filme aqui exibido é um das obras mais comerciais da carreira de Miike e também uma das mais fracas. A trama promissora sobre um serial killer, que precisa ser protegido pela polícia das pessoas que desejam matá-lo para ganhar uma recompensa de um bilhão de ienes, seria como dinamite nas mãos do diretor certo. Mas Miike, no momento, não é esse diretor. Ele recebeu ordem de fazer um filme policial padrão e acabou transformando o roteiro em um thriller chato, longo e com muita choradeira nos diálogos. Nem parece o mesmo que refilmou 13 Assassinos com todo vigor.
Uma obra sem o padrão de qualidade de Takashi Miike, e que no conjunto todo, não representa um grande revés. Entre altos e (alguns) baixos, continua a resistir nas beiradas do lamaçal em que o cinema japonês está se tornando. Nomes de respeito, como Takashi Kitano e Kiyoshi Kurosawa, cada vez mais encontram barreiras para filmar. No caminho que está trilhando, Takashi Miike ainda é capaz de fazer um bom filme a cada dois. É um luxo inestimável nos dias de hoje.
Leandro Cesar Caraça
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