A Garota de Rosa-Shocking
A Garota de Rosa-Shocking (Pretty in Pink, 1984), de Howard Deutch
Mais do que “um filme dos anos 80”, A Garota de Rosa-Shocking parece representar todo o imaginário daquela década. Nesse aspecto, não difere muito de um Quando os Jovens se Tornam Adultos ou Loucuras de Verão, com a significativa diferença de que estes foram produzidos quando o imaginário das épocas retratadas – final dos anos 50 e início dos 60, respectivamente – já estava bem estabelecido. Eis a peculiaridade do filme dirigido por Howard Deutch: o filme vive da nostalgia de seu próprio tempo.
Do figurino espalhafatoso às músicas de INXS, New Order, The Smiths e Echo and The Bunnymen, tudo sugere um certo exagero saudosista, uma necessidade forçosa de estabelecer um tempo e lugar bastante específicos. Surpreende, então, sua realização no centro da década, em pleno 1986. E se um bom filme (ao menos um com alguma relevância) deve captar o espírito de sua época, então A Garota de Rosa-Shocking deve ter seu lugar entre seus contemporâneos.
Assim, nenhum outro autor que não John Hughes poderia tê-lo escrito e, ninguém, além de Molly Ringwald, poderia estrelá-lo. Ela é a garota pobre na escola particular, o patinho feio, a gata borralheira por quem um dos riquinhos do colégio irá se apaixonar. Trama mais banal não há: ela tem uma amiga estranha, um amigo esquisito e um pai carinhoso, mas disperso. Ela dá um fora no playboy garanhão do colégio, cujo melhor amigo era justamente seu alvo romântico.
No cerne disso, temas “nobres” como o preconceito, o amadurecimento, a amizade, a família. Sendo, pelo bem e pelo mal, um filme de John Hughes (com a direção modesta de Howard Deutch, é verdade), lições moralizantes abundam, com um final capaz de fazer corar até mesmo o mais romântico dos espectadores. Nada, no entanto, que após o longo atraso que antecedeu o lançamento deste DVD no mercado brasileiro, capaz de abalar o entusiasmo daqueles que, em longínquas tardes entediadas na casa de seus pais, assistiram a Garota de Rosa-Shocking pela primeira de muitas vezes.
Bruno Cursini
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