Ano VII

De Menor

segunda-feira out 21, 2013

De Menor (2013), de Caru Alves de Souza

De Menor não é o primeiro filme brasileiro a demonstrar a impessoalidade do Poder Judiciário e como ele é o componente final de uma ampla teia de exclusão. Existem Justiça (2004) e Juízo (2007), os filmes de Maria Augusta Ramos a desbravar o campo. O que dá singularidade a De Menor é seu movimento de levar um problema macro e aparentemente distante para dentro de casa. Para a esfera da intimidade.

Pois uma coisa é pensar o tema num contexto amplo, ou seja, uma abordagem “lá nele”, no outro. O longa de estreia de Caru Alves de Souza aproxima e personaliza um tema ao colocar na linha divisória uma personagem advogada que defende adolescentes pobres que cometeram pequenos delitos.

Em De Menor, acompanhamos o desabamento de sua redoma de proteção, obviamente baseada em seu privilégio de classe. Até o momento do filme começar (com um plano pinçado num dia qualquer na vida da personagem), Helena possivelmente desfrutava de uma sensação de segurança. À medida em que se aprofunda a personagem e sua relação com o irmão adolescente, Caio, cresce o risco – não só dela, mas da própria experiência em assistir ao filme. Esse é um mérito do longa de estreia de Caru Alves de Souza: encaminhar o espectador para uma sinuca de bico, representada no angustiante silêncio do plano final, que evita inclusive o que de pior poderia acontecer para um filme como esse, o desfecho catártico.

Uma sombra de risco, insegurança e surpresa. Um desenvolvimento narrativo que contrapõe, na boa montagem, o humano com o impessoal, a vitória na corte com a derrota na própria casa, a moradia confortável com o cortiço. Ainda que alterne bons e ruins momentos de intimidade com a personagem (como a cena do carro em busca da mãe de um garoto; a repetição do mar como signo; o plano do reflexo no espelho), De Menor nunca deixa de despertar o interesse. Seja pela gradativa insegurança que o ronda, seja pelas lacunas a preencher. Pois este é um filme dos não-adultos ou recém-adultos tentando se haver com o mundo dos crescidos, que abriu o livro da vida de seus personagens na página certa para ler em voz alta, com imagens.

Heitor Augusto

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