O Garoto Que Come Alpiste
O Garoto Que Come Alpiste (To Agori Troei to Fagito Tou Pouliou, 2013), de Ektoras Lygizos
Quando se pensa em cinema grego, um nome que vem à mente do frequentador da Mostra SP é o de Theo Angelopoulos, diretor de Paisagem na Neblina (1988) e merecedor de duas retrospectivas: na 20ª e na 33ª edições. O cinéfilo mais antigo, por outro lado, vai lembrar de Michael Cacoyannis, de Zorba, o Grego, uma coprodução EUA-Grécia (ou seja, filme grego para americano ver). O mais erudito, dos ótimos George Tzavellas (The Counterfeit Coin, 1955) ou Nikos Koundouros (O Ogro de Atenas, 1956).
No caso do mostreiro mais recente, o diretor lembrado pode ser Yorgos Lanthimos (Alpes, 2011 – 36ª Mostra) ou ainda Athina Rachel Tsangari (Attenberg, 2010 – 35ª Mostra), os representantes mais conhecidos da nova geração do cinema grego, geração que está fazendo o possível para fazer ruir a edificação construída pelos nomes do primeiro parágrago (mesmo Cacoyannis, que é mais acadêmico, tem coisas muito boas no currículo).
E se depender do potencial de choque, um novo nome deve se juntar a esses destruidores de boas cinematografias: Ektoras Lygizos. Esse jovem diretor estreia em longas com O Garoto Que Come Alpiste, representante da Grécia para a disputa de uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas é certamente o nome mais fraco entre todos os mencionados aqui (uma vez que Lanthimos e Tsangari são apenas medíocres).
Tento ver o máximo que posso os filmes da Grécia. Verei, na medida do possível, os outros representantes. Mas se nos basearmos pelo que tem chegado à Mostra nos últimos anos, o cinema do país está imitando sua economia, infelizmente. O que desmonta a tese de que em época difícil a criatividade tende a aumentar.
Vejamos a que responde o tal potencial de choque. Logo no início, percebemos que o jovem protagonista, Yorgos, comporta-se de maneira pouco usual. Fica horas parado em posições estranhas, tira a meia de um pé e a deixa cair propositalmente no quintal do prédio onde mora, come coisas estranhas que encontra pelo chão (além do alpiste, claro).
Mais adiante, passa a perseguir uma moça que está com o cabelo preso (como um ninho). Quando a vemos de perto, percebemos que ela, além de muito bonita, tem uma feição e o formato do rosto (acentuado pelo cabelo preso) que lembra a de um singelo passarinho. Ao chegar em casa, após tal perseguição, o jovem se dedica ao onanismo, e depois se alimenta do resultado de seu alívio.
Tudo isso é filmado com uma câmera que adere incondicionalmente ao personagem. Quando tal recurso é bem usado, como em alguns filmes dos irmãos Dardenne ou de Naomi Kawase, temos uma experiência no mínimo interessante. Não é o que acontece em O Garoto Que Come Alpiste.
Aqui temos um exemplo da famigerada câmera-cachorro, aquela que segue qualquer movimento feito pelo ator, por mais insignificante que seja. Mas cachorro não come alpiste.
Sérgio Alpendre
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