Sunshine Boys
Sunshine Boys (Sunshine Boys, 2013), de Kim Tae-Gon
Sunshine Boys, segundo filme do coreano Kim Tae-Gon, remete de certa forma ao cinema mais recente de Hong Sang-soo, mas é preciso deixar claro, e imediatamente, que tal proximidade se dá apenas no universo retratado e na forma de retratá-lo. Kim Tae-Gon faz um filme com um quêzinho da atmosfera de Hong Sang-soo, mas de modo adolescente, no tema e na forma, e sem a graça, humor e poesia, do cineasta de Hahaha – o que é até muito se pensarmos na genialidade de um e na inexperiência de outro.
No filme, dois jovens saem de Seul rumo às belas montanhas geladas da região de Pulsan, quase na fronteira com a Coreia do Norte, para reencontrar um ex-amigo do colégio que agora serve ao exército. A um deles, cabe a difícil tarefa de entregar ao amigo no serviço militar a carta da namorada deste que anuncia o rompimento do namoro.
Pueril, às vezes bem bobo – como os adolescentes costumam ser – o ponto alto é a maneira honesta e humana que o filme assume ao construir os três personagens nesse reencontro de um dia.
Trabalhando a sucessão de acontecimentos dentro de um fluxo temporal que foge à lógica do nexo causal – algo comum no cinema oriental -, a imprevisibilidade das ações e das reações dos personagens, sobretudo depois de bêbados – outra forte relação com Sang-soo, naquilo que parece ser uma característica cultural – acentua, nos personagens, um ar patético, das paixões extremadas, que, longe da caricatura ou de torná-los somente ridículos, cria nesses personagens uma musculatura na composição, provocando forte empatia no público. Se rimos deles, rimos da verdade adolescente que trazem, das incertezas e dúvidas quanto ao futuro, seja por causa da instabilidade econômica, seja por causa do agravamento da crise com a vizinha Coreia do Norte – o filme se passa em 1999.
Outro destaque do filme é a maneira sutil e poética que retrata a relação de um dos adolescentes com uma jovem que se prostitui numa casa de chá. A descoberta do sexo o isola e o coloca num estado à parte, inebriado, cheira sempre os dedos para lembrar que já não é mais o mesmo.
Cesar Zamberlan
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