Inch´Allah
Inch´Allah (Inch´Allah, 2012), de Anaïs Barbeau-Lavalette
Inch´Allah, segundo filme da canadense Anaïs Barbeau-Lavalette, ganhou o prêmio da Fipreci (Federação Internacional dos Críticos) na seção Panorama em Berlin em 2013. O filme acompanha uma médica de uma organização humanitária que reside em Jerusalém e todo dia atravessa a fronteira para Ramalah para cuidar da saúde de mulheres palestinas num campo de refugiados.
O olhar estrangeiro para o conflito e a impossibilidade de manter-se em neutralidade num confronto que parece que jamais será pelo menos atenuado é o ponto central do filme. A médica Chloé logo percebe que estar dos dois lados da fronteira significa não estar de lado nenhum – frase dita por Safi, irmão de Rand, a amiga palestina de Chloé. Em contrapartida, Ava, a amiga israelense a lembra que essa não é uma guerra dela.
De certa forma, os dois paralelos servem também ao filme que, ao tentar uma neutralidade e um olhar mais humanitário para a questão, pontuado, sobretudo, na presença e atividade das crianças no campo de refugiados, parece, como a personagem, não saber qual caminho seguir. E quando Chloé decide agir, decisão não muito bem explicada no filme, tal atitude parece servir mais a um final forte e mais bombástico ao filme, do que para dar conta do conflito e da personagem.
Ainda que Anaïs Barbeau-Lavalette consiga certa e fluidez e até leveza na narrativa, mesmo diante de um tema tão complicado; ainda que a câmera na mão acompanhando a personagem crie uma necessária tensão; ainda que a atriz que vive a médica e as duas outras atrizes femininas sejam interessantes e deem certo peso às personagens; Inch´Allah parece apenas confirmar quão difícil é tratar e buscar entender ainda que minimamente um conflito que parece exigir sempre uma tomada de posição clara. E ao não fazê-lo, o filme deixa de ter o impacto que outros filmes que trataram a questão de maneira mais direta e profunda tiveram. Penso, por exemplo, nos filmes de Suleiman, em Paradise Now de Hany Abu-assad e em Free Zone de Amos Gitai. Gitai, aliás, com um filme a ser visto na Mostra e que explora temática semelhante a Inch´Allah.
Cesar Zamberlan
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