Jobs
Jobs (2013), de Joshua Michael Stern
Há quem considere Steve Jobs um gênio, há quem o chame de profeta do apocalipse. Jobs previu, em meados dos anos 1970, que as pessoas no futuro usariam o computador como extensões de seus corpos.
Mais: seriam dependentes dessas extensões, aprimoradas e diminuídas em formatos de celulares, tablets, aplicativos e jogos alienantes. Acertou em cheio.
Uma coisa é certa. O mundo como hoje conhecemos deve muito a essa figura polêmica, competitiva, inteligente e propensa a constantes reinvenções. Se isso é bom, é uma outra história.
Jobs, o longa de Joshua Michael Stern, mostra a transformação de um garoto ambicioso e visionário em um monstro que vive unicamente de trabalho e abandona pessoas com quem cresceu (pessoal e profissionalmente).
O fundador da Apple vivido por Ashton Kutcher é um homem autocentrado na ideia de sucesso a qualquer preço, algo que se confunde com a ambição de revolucionar o mercado consumidor fazendo com que qualquer pessoa tenha acesso à tecnologia.
Para realizar essa revolução, ele não hesita em dispensar a namorada grávida, o melhor amigo e outras pessoas que o apoiaram. Sua ideia fixa é a de que ele é o gênio, e os que o apoiam, em sua maioria, são parasitas que vivem debaixo de suas asas.
Esse retrato quase unilateral, que permite apenas pequenos traços de ambiguidade em sua construção (uma lágrima contida aqui, uma voz falha ali, efeitos alcançados em grande parte pelo talento de Kutcher) poderia até resultar em um bom filme, caso Stern tivesse alguma ideia da dimensão de seu personagem e de como essa dimensão poderia ser retratada no cinema.
O espectador não conhece Steve Jobs (salvo em raros momentos) fora do ambiente de trabalho. O que vemos quase sempre é algum acontecimento marcante de sua vida, ou uma consequência imediata. E os acontecimentos são mostrados da forma mais banal possível, com música melosa e movimentos de câmera indigentes.
Nenhum bom filme se faz só de acontecimentos marcantes. É mais ou menos o que diz um personagem de Assim Estava Escrito (1952), obra-prima de Vincente Minnelli: "Se toda cena for um clímax, o filme irá se desfazer como um colar partido". No clássico de Minnelli, a discussão diz respeito à vontade do produtor de que cada cena seja antológica, cada plano, iluminado. No de Joshua Michael Stern, só nos é permitido ver os momentos importantes para a carreira de Steve Jobs. Por não vermos o lado ordinário de sua vida, não temos noção de como ele era, como lidava com as coisas do cotidiano, como, enfim, era esse ser humano. Stern só nos permite conhecer o monstro, ou o visionário. Você escolhe.
Sérgio Alpendre
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