Ano VII

Depois da Terra

sexta-feira ago 16, 2013

Depois da Terra (After Earth, 2013), de M. Night Shyamalan

A farsa de M. Night Shyamalan foi desmascarada faz algum tempo, porém a vergonha pela sua alçada ao posto de importante autor viverá entre os críticos que o promoveram a tanto. Ele que fora logo proclamado como roteirista minucioso e seguidor de uma linhagem de clássicos construtores do cinema de suspense, nunca passou de fato de um escritor prepotente e que raramente conseguiu fazer suas invenções ultrapassar o campo das ideias e conseguir um resultado de qualidade quando levadas ao cinema. Talvez não seja por acaso que O Sexto Sentido tenha sido seu primeiro e (de longe) maior sucesso, pois a obra continua a mais enxuta e certeira no que se refere aos truques de roteiro e elegância na direção.

Nos filmes que se seguiram, a hipérbole de Corpo Fechado, os furos de roteiro em Sinais, a capenga construção do suspense e lógica dos personagens de A Vila e o infantil ataque aos seus detratores, na forma do ridículo A Dama na Água, trouxeram a tona as limitações de um cineasta na maior parte do tempo incapaz de equilibrar criatividade com efeitos práticos. O que parte dos que o defendem entendeu como uma precisa elaboração na forma de escrever, uma visão fresca da dinâmica entre os personagens e o mundo ao seu redor, uma volta aos medos primitivos do homem antigo, e outras colocações bonitas, mas equivocadas, quase nunca foi além de uma mise-en-scéne contida (e sim, elegante), só que refém de uma escrita fraca. No universo de M. Night Shyamalan, as soluções encontradas por ele não estão no mesmo nível das preocupações sempre pertinentes que o autor coloca.  Dentro da filmografia do cineasta, muito me agradou O Fim dos Tempos, com um trabalho de direção precisa por parte de Shyamalan e alguns achados que aproximam o filme das preocupações do japonês Kiyoshi Kurosawa e do estadunidense Larry Fessenden na relação homem-natureza.

O discurso sobre o meio ambiente retorna em Depois da Terra, projeto pessoal do astro Will Smith e um veículo para seu filho, Jaden Smith, brilhar. Flertando com a ficção científica futurista pela primeira vez, Shyamalan lança mão de uma aventura básica, com o protagonista (Jaden) enfrentando sozinho a fauna e a flora de um planeta que desenvolveu defesas contra a raça humana. O planeta em questão é a própria Terra, milênios depois de ser abandonada pelo homem por causa das péssimas condições ambientais que ele próprio foi o responsável.  Shyamalan trabalha com a ideia de que o planeta seja um organismo vivo que aprendeu como evitar seu principal predador, fator que funciona mais como um MacGuffin do que força motora do filme. É a relação conflituosa entre pai e filho que mais interessa, e é por causa disso que Depois da Terra afunda. Shyamalan dirige o filme seguindo as diretrizes do produtor Will Smith.

Jaden Smith se mostra um ator fraco, agora já sem o carisma infantil que apresentou em produções anteriores. Seu pai não se sai melhor, alcançando o pior desempenho de toda sua carreira como um militar emburrado incapaz de ter duas expressões faciais durante o filme. Um aspecto interessante e esquecido pelos realizadores é a colonização praticada pelos seres humanos em busca de um novo lar, que apenas reproduz o que havia sido feito antes na Terra. O conflito com os antigos moradores fica em segundo plano, esquecido como a sociedade altamente militarizada em que vivem os personagens. Depois da Terra é menos um filme e mais a vontade de Will Smith em elevar seu filho à condição de astro como ele. Para isso, contratou um diretor em franca decadência e pouco envolvido pela trama em geral.  Durante o filme, Will Smith fica dentro de uma nave dando instruções para seu filho, sem se envolver com a ação e os perigos. Shyamalan faz o mesmo em relação ao espectador, telegrafando a ação e esperando que alguém ainda confie em suas decisões. Mas esse tempo ficou lá atrás.

Leandro Cesar Caraça 

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