Além da Escuridão – Star Trek
Além da Escuridão – Star Trek (Star Trek Into Darkness, 2013), de J.J. Abrams
A tripulação da Enterprise encara nesta nova aventura o seu maior desafio desde o fim da Guerra da Fria. Os acontecimentos da Perestroika e da queda do Muro de Berlim resultaram no sexto longa-metragem da franquia, A Terra Desconhecida (Nicholas Meyer, 1992), que sinalizava o começo do fim das hostilidades com a raça klingon – que simbolizavam os soviéticos dentro do universo criado por Gene Rodenberry. Os eventos de 11/09 finalmente deixaram marcas no mundo então ordenado e idealista de Star Trek. Os klingons estão de volta, com novo visual, e ainda que apareçam pouco no filme, fica claro que agora eles representam o Oriente Médio, principal problema dos Estados Unidos. Os grandes vilões de Além da Escuridão, entretanto, são um militar de alta patente e um terrorista com habilidades sobre-humanas, cuja aliança poderá dar início a uma guerra estelar e a destruição de incontáveis vidas.
Novamente tomando as rédeas da franquia, J.J. Abrams, que jamais escondeu não ser um fã de carteirinha da série, segue mostrando o início da relação entre Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto) e o restante dos personagens. Ainda sofrendo de péssimo comportamento e de decisões erradas, o Capitão Kirk se deixa tomar pelo desejo de vingança após um atentado terrorista e a morte de seu amigo e superior (Bruce Greenwood) pelas de uma figura bem conhecida dos trekkies, Khan (Benedict Cumberbatch, em ótima atuação). A produção do filme bem que tentou esconder o segredo, que não demorou para ser revelado. Cumberbatch é a nova versão de Khan, vilão imortalizado por Ricardo Montalban no seriado televisivo dos anos 1960 e em A Ira de Khan (Nicholas Meyer, 1982), segundo e considerado pela maioria como melhor dos longas feitos feito para cinema. A sede de sangue de Kirk o coloca em rota de colisão com outros membros da nave, até que o verdadeiro plano-mestre é revelado e a missão de matar Khan deixa de ser a prioridade. Com isso, a Enterprise retorna ao ideário original de Gene Rodenberry, mas sem fechar os olhos para o contemporâneo.
A tática usada no filme anterior foi usar do golpe baixo da viagem temporal que altera a história. Agora os novos longas não precisam reproduzir fielmente os dogmas de Star Trek, apenas se basearem neles. Em Além da Escuridão, Abrams comete o sacrilégio de inverter a mais célebre cena da história da extensa série, para desagrado dos fãs mais ortodoxos. Passando por cima de várias regras canônicas e dando mais prioridade para a ação e a aventura, o produtor-diretor aproxima cada vez mais a série de seu concorrente Star Wars, mas não permite que o filme escorregue mesmo com momentos hilárias como o do celular que faz chamadas intergalácticas. Quarto longa assinado por Abrams, Além da Escuridão é o seu melhor até o momento, em uma ascendência filme a filme, depois dos irregulares Missão Impossível 3 e Star Trek e do spielberguiano Super 8. A próxima jornada de Abrams será com o universo de Star Wars, tendo a missão de levar a série sem a presença de George Lucas. Se os resultados forem iguais aos conseguidos em Além da Escuridão, Luke Skywalker e cia. podem ficar mais do que tranquilos.
Leandro Cesar Caraça
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