Oblivion

Oblivion (2013), de Joseph Kosinski

Sendo a ficção científica um gênero caracterizado por elementos inovadores e visões futuristas que se mesclam ao seu imaginário, pode parecer um grande contrassenso que a própria ficção no cinema passe por grandes períodos sem apresentar soluções criativas, limitando-se apenas a repetir fórmulas. O último filme estrelado pelo astro Tom Cruise é um compêndio de diversas das mais conhecidas ficções produzidas por Hollywood desde o surgimento de Matrix (1999) dos irmãos Wachowski. Mesmo que isso até represente um problema, por outro lado, deixa o espectador médio mais familiarizado com a trama. Além disso, um olhar despido de preconceito e mau humor vai revelar um filme interessante, bem filmado e com ideias bem colocadas, apesar de suas origens sejam bastante reconhecíveis.

No ano de 2077, os seres humanos já abandonaram o planeta Terra após uma guerra contra alienígenas, e agora, habitamos Titã, uma das luas de Saturno. Encarregado de consertar os drones que extraem reservas naturais para a sobrevivência da espécie, Jack (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) são as únicas pessoas vivendo agora no planeta, na Torre 49, uma estação logo acima das nuvens, e o perigo existe na figura dos alienígenas que ainda habitam por aqui. Estranhos sonhos de Jack envolvendo uma bela mulher (Olga Kurylenko) são apenas o prenúncio dos segredos que ele deverá decifrar, se quiser descobrir o verdadeiro destino da raça humana. Desde o começo, as referências a outras obras de ficção são facilmente detectáveis, e os mistérios apresentados não chegam a ser uma grande surpresa afinal. Baseada em uma illustrared novel não publicada de autoria do diretor Joseph Kosinski (Tron – O Legado, 2010), Oblivion é uma verdadeira colcha de retalhos de citações a outras obras.

Durante toda a trajetória do herói Tom Cruise no filme, pescamos pouco a pouco as inspirações de Kosinski. Como disse o próprio diretor, Oblivion é um grande aceno às ficções científicas dos anos 1970, daí que obras antigas e mais recentes se revezem no jogo de citações da narrativa. Dentro do caldeirão de ideias recicladas, cabe desde as desventuras de Charlton Heston, tanto em O Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner, 1968), quanto em A Última Esperança da Terra (Boris Sagal, 1971). A obra-prima de Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) também se faz presente, e seria deselegante dizer que Kosinski viu o remake (2002) de Soderbergh para Solaris ao invés do original (1972) de Tarkovski? Entre as copiações mais recentes, temos Matrix, Lunar (Duncan Jones, 2009), e até mesmo a animação da Pixar, Wall-E (Andrew Stanton, 2008), com o simpático robozinho lixeiro.

É possível discutir se esse conjunto de ideias não seja apenas preguiça na escrita ou excesso de reverência por parte de Kosinski, ou somente parte das regras que regem a ficção científica no cinema hoje. O fato é que em Oblivion, não faltou nem mesmo Morgan Freeman em seu habitual papel do sábio personagem que revela seus conhecimentos para o ignorante herói caucasiano. Conseguindo o espectador relevar a sensação de déjà-vu, ainda muita coisa para se destacar: os cenários impressionantes do planeta devastado e do maquinário utilizados, a figura assustadora dos drones em formato redondo, a trilha sonora (que mescla clássicos do rock), os bons efeitos especiais, tudo cooperando para fazer de Oblivion uma ficção de qualidade. Pode ser requentada, mas fica acima do que Hollywood apronta.

Leandro Cesar Caraça