2 Dias em Nova York
2 Dias em Nova York (2 Days in New York, 2012), de Julie Delpy
2 Dias em Nova York, quinto filme dirigido por Julie Delpy, começa com um pequeno teatro de marionetes. O que nos faz lembrar (que os deuses do cinema nos perdoem) de Jean Renoir e seu monumental A Cadela (1931).
Se no filme de Renoir temos um crime passional, um falso culpado e uma descida ao inferno, no de Delpy temos um mundo cor-de-rosa em que os problemas são facilmente ultrapassados pela harmonização à fórceps dos conflitos que surgem.
A própria Delpy é Marion, uma quarentona loira, francesa e casada com um negro americano (ausente, sabe-se lá por quê, do prólogo com as marionetes). O casal tem uma filha negra e um filho loiro, ambos de seus casamentos anteriores.
A miscigenação é uma pista falsa. O preconceito racial não será discutido a valer, apesar de uma menção à Ku-Klux-Klan e de algumas insinuações simplistas (Obama pra cá, Obama pra lá…). Mas a ausência do marido negro num prólogo que antecipa a história é curiosa. Estaria Delpy insinuando um deslocamento do personagem? É algo que não fica claro.
A trama começa de fato quando ela recebe os parentes para uma visita, sob o pretexto de acompanhar sua exposição fotográfica. Vem pai e a irmã com seu namorado esquizofrênico. Eles instalarão o caos no apartamento.
O filme se transforma, então, numa comédia de costumes, seguindo a cola do segundo longa de Delpy, Dois Dias em Paris, do qual este novo é, na verdade, uma continuação. Digressões como a que apresenta o pai de Marion desde seus 18 anos encarregam-se de reiterar o lado doce da vida (reiteração forçada, e por isso não podemos crer que haja qualquer insinuação de que algo mais grave acontece). Limpar latrinas emporcalhadas tem assim o mesmo peso narrativo que a violência na Guerra da Argélia.
Sérgio Alpendre
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