Ano VII

Mama

domingo abr 21, 2013

Mama (2013), de Andrés Muschietti

O curta-metragem Mama, dirigido pelo espanhol Andrés Muschietti em 2008, foi um pequeno e eficiente exercício de terror sobre duas pequenas irmãs fugindo de sua mãe possuída por alguma força maligna. Bastou para chamar a atenção de Guillermo Del Toro, que achou por melhor transformar o curta em um longa-metragem novamente com a presença de Muschietti na direção. Se a primeira versão de Mama satisfazia por sua rápida duração, para um filme de 100 minutos era preciso uma história que pudesse preencher todos os espaços do roteiro entre os sustos pretendidos por Del Toro e Muschietti. O resultado não é muito animador.

Temos então um longa-metragem, que apenas cita o curta de origem em uma sequência, criando toda uma nova trama e, pelo menos em sua primeira metade, tendo algum cuidado em igualar a construção narrativa com a criação de sustos bem encaixados. A premissa é boa, com duas pequenas irmãs criadas por um espírito desencarnado em uma cabana isolada, no meio de uma floresta. Após cinco anos desaparecidas, elas são encontradas e levadas de volta para o convívio com outras pessoas. Após um breve período no hospital, a dupla será encaminhada para viver com o tio (Nikolaj Coster-Waldau) e a namorada deste (Jessica Chastain), que a princípio se mostra bastante relutante com a ideia.

O processo de readaptação terá mais sucesso com a menina mais velha, enquanto que a outra se mostrará muito dependente da influência que a fantasmagórica Mama exerce. Temos aqui um caso em que o espectador sabe de antemão da existência do sobrenatural, e vai ter que aguentar os protagonistas adultos (além de um psicólogo pouco inteligente) se questionando sobre o que acontecendo durante a maior parte do filme.

As atitudes dos personagens quase sempre beiram a idiotia, sobrando par a Jessica Chastain os melhores momentos, como quando tenta se aproximar afetivamente das meninas. O dedo de produtor Guillermo Del Toro é perceptível, não faltando nem mesmo sua predileção por insetos, que sempre surge em sua filmografia: as aparições da fantasmagórica Mama quase sempre são precedidas por mariposas. As relações familiares também se fazem presentes, assim como o foco nas crianças. Interessante notar que o mesmo ator que interpreta o tio das meninas, também faz o pai, que é responsável pelas crianças irem para na cabana.

A figura assustadora do fantasma (maternal e vingativo ao mesmo tempo) sofrerá por exposição, que junto de alguns efeitos de CGI insatisfatórios, tirará boa parte do seu fascínio. Melhores são as partes em que sua presença não é mostrada, como na sequência uma das meninas brinca com o espírito em seu quarto, enquanto a madrasta Chastain arruma a casa alheia ao que está acontecendo. A resolução da trama estica-se mais do que o necessário, mas com um desfecho satisfatório. Chega inclusive a se relacionar com o imaginário de Tim Burton, cineasta superior a Del Toro em vários aspectos. Sem coragem para copiar o autor de A Noiva Cadáver em seus próprios filmes, o mexicano usou o estreante Andrés Muschietti no processo. Unindo a falta de clareza de um com a inexperiência do outro, Mama não está à altura de boas histórias de fantasmas recentes como A Mulher de Preto (James Watkins, 2011).

Leandro Cesar Caraça

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