Alvo Duplo
Alvo Duplo (Bullet to the Head, 2012), de Walter Hill
O retorno de Walter Hill ao longa-metragem com Alvo Duplo, após um hiato de dez longos anos, encontra paralelos com Aterrorizada (2011) de John Carpenter. Em ambos, temos dois velhos cineastas retornando ao cinema depois de uma década ou mais, com alguns trabalhos feitos para televisão durante esse tempo, e cientes de que muita coisa mudou. Tanto quanto Carpenter se mostrou um pouco desajeitado com uma história aparentemente simples de fantasmas dentro de um hospital psiquiátrico (um cenário bem familiar a ele), Walter Hill demora um pouco para encontrar o ritmo certo em Alvo Duplo. A mesma trama que ele conhece tão bem – uma dupla improvável que se une para enfrentar inimigos em comum – parece um pouco frouxa a princípio. O roteiro de Alessandro Camon, inspirado em uma graphic novel francesa, tem vários problemas, que Hill na maior parte do tempo consegue contornar.
O maior problema é a dupla de protagonistas. Pois, se Stallone está bem à vontade como Jimmy Bobo Bonomo, assassino profissional que mata pessoas desarmadas sem pestanejar, o detetive descendente de sul-coreanos Taylor Kwon (Sung Kang, da série Velozes e Furiosos) não tem a presença necessária para compor um parceiro à altura. Muito menos de repetir a química existente entre Nick Nolte e Eddie Murphy nos dois 48 Horas (1982 / 1990) e entre Arnold Schwarzenegger e James Belushi em Inferno Vermelho (1988), todos dirigidos por Hill. Melhor sorte teve Jason Momoa – a equivocada nova versão de Conan – como o vilão Keegan, marcante como a maioria dos implacáveis bandidos dentro da filmografia do diretor.
Outros momentos mostram Hill no piloto automático ou trazem diálogos péssimos ditos por personagens caricatos (como o advogado vivido por Christian Slater). É quando Alvo Duplo se aproxima perigosamente de uma produção direct-to-video corriqueira. Por sorte, na maior parte do tempo, o diretor consegue fazer funcionar sua palheta visual, remetendo direto a obras dos seus anos de maior glória. A trilha musical continua a mesma da década de 1980. As sequências de ação bem filmadas mostram um cineasta com quase setenta anos que ainda possui muita gana. A climática luta de machados é tão boa quanto o embate de marretas em Ruas de Fogo (1984). O título original, Bullet to the Head, também não está aí por acaso, e muitas cabeças serão atingidas – e também muito sangue em CGI vai espirrar na tela.
O maior feito de Alvo Duplo foi unir Walter Hill e Sylvester Stallone em um mesmo filme. Duas das mais emblemáticas figuras do cinema de ação das últimas décadas, e que nunca haviam feito nada juntas. Stallone recuperou nos últimos anos parte da estrela, requentando os antigos personagens Rocky e Rambo, e também aparecendo ao lado de outros dinossauros dos filmes de pancadaria e de explosão (na série Os Mercenários). Alvo Duplo pode não representar o cinema de Hill em todo seu potencial, mas serve para corrigir uma pendência história. Agora é esperar que sua pontaria esteja mais calibrada na próxima vez.
Leandro Cesar Caraça
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