Dentro da Casa
Dentro da Casa (Dans la Maison, 2012), de François Ozon
Dentro da Casa é o novo thriller de François Ozon: cineasta que não desperta paixões e, tampouco, detratores. Em sua variada filmografia, talvez este tenha mais ligações com Swimming Pool, seja pela importância de uma casa específica servindo de abrigo a um intruso, seja pelo jogo – bastante conveniente e manjado – em misturar a subjetividade de um escritor com os fatos exibidos. Como na produção de dez anos atrás, o resultado oscila entre o divertido e a leviandade fácil.
Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura do ensino médio. Em meio às bobagens escritas nas redações de seus alunos – que deveriam fazer um relato de seu final de semana –, encontra um texto, assinado pelo discreto Claude (Ernst Umhauer), que lhe chama atenção. Nele, temos um relato crítico e insolente sobre a vida de uma família de classe média alta, vivendo na aparente perfeição de um anúncio publicitário. O filho deste casal está com problemas em matemática e Claude irá ajudá-lo na matéria.
O dilema, ao menos para Germain, é que estes personagens são reais, conhecidos: alunos desta sala e suas respectivas famílias. Até que ponto seria ético brincar com a vida das pessoas à sua volta, tornando-as personagens de ficção? O fato é que o professor quer saber mais e incentiva o aluno a produzir outros capítulos desta pequena novela cotidiana.
A partir daí, se estabelecerá uma relação de mestre e pupilo que irá ser marcada pela troca de poder entre ambos: quanto mais o jovem vê o entusiasmo de seu professor por sua narrativa (e também pela vontade de fazer dele o escritor talentoso que ele nunca se tornara), maior fica sua influência na vida deste homem que, até então, parecia esmorecida e, em certo momento, torna-se um figura central do conto que ajudou a criar; o que, imediatamente, começa a desestabilizar sua rotina no trabalho e com sua esposa.
Ozon tem, inegavelmente, uma capacidade considerável de estabelecer um clima de excitamento e tensão – pensamos também no recente Ricky. O que incomoda, portanto, é sua preocupação em mostrar-se esperto num roteiro que, à medida em que a fantasia vai tomando conta da realidade, uma ironia auto-reflexiva parece permitir e perdoar todo e qualquer absurdo dramático dos personagens: Sherazade é invocada repetidas vezes, bem como a noção do monomito e a jornada do herói, exposta e problematizada na sala de aula, com direito a desenho na lousa e o diabo a quatro.
O efeito é aquele de uma picaretagem ligeira e esquecível, mas capaz de entreter mesmo em seus momentos mais abertamente superficiais e descabidos. Estas são características constantes na carreira do diretor francês, aqui se saindo com um saldo um pouco melhor do que sua média (bastante acanhada, é verdade).
Bruno Cursini
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