Amanhecer Violento / Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer
Amanhecer Violento (Red Dawn, 2012), de Dan Bradley
Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer (A Good Day to Die Hard, 2013), de John Moore
Na década de 1980, Hollywood promoveu um cinema comercial de ação alinhado à política de Ronald Reagan. Foram os anos em que Sylvester Stallone apareceu como garoto propaganda dos republicanos, colocando Rocky Balboa para enfrentar o sistema soviético em cima de um ringue em Rocky IV e fazendo com que Rambo (agora um outsider útil à Casa Branca) vencesse praticamente sozinho a Guerra do Afeganistão em Rambo III.
O clima ainda era de Guerra Fria, mas os sinais de que os soviéticos perderiam a batalha já começavam a ficar evidentes. Essa expectativa de vitória a médio prazo, junto da paranoia nuclear pós-Chernobyl e do escândalo Irã-Contras, permitiu a chegada de um público desesperado para ver os comunas – e demais inimigos dos EUA – serem destroçados por uma nova gama de heróis de ação. Combinando os músculos dos astros de filmes de gladiadores dos anos 60 (Schwarzenegger, Stallone) com a assimilação do cinema de artes marciais dos anos 70 (Chuck Norris, Jean Claude Van Damme), essa década levou para as telas personagens que pareciam um desenho animado ou bonecos articulados saídos da seção de brinquedos.
Em meio a tantas patriotadas, o cinema de Hollywood conseguiu deixar um legado razoável de produções de qualidade, que cumpriam bem seu papel de divertir os reacionários e direitistas, além dos que apenas queriam ver o circo pegar fogo e Chuck Norris dar seu característico golpe coice de mula em vietcongues e terroristas palestinos. Dois filmes que se destacaram na década foram Amanhecer Violento (John Milius, 1984) e Duro de Matar (John McTiernam, 1988), com o primeiro apresentando um delírio no qual os EUA são invadidos por forças soviéticas e cubanas, e o segundo criando um novo tipo de filme de ação, aquele em que o protagonista precisa enfrentar sozinho um exército num cenário fechado – no caso, um arranha-céu.
Corte para a década atual, com esse cinema explosivo de ação cada vez mais ensurdecedor e emburrecido. Amanhecer Violento ganhou uma refilmagem, e a saga de John McClane iniciada em 1988 chegou ao seu quinto exemplar. Dan Bradley, veterano dublê e assistente de direção, assina uma reinterpretação do filme de John Milius. A ideia original é que os chineses seriam os inimigos do momento, mas uma vez que o mercado da China é importante (e que eles são os maiores credores da dívida estadunidense), não pegaria bem ir contra essa gente. Restou para os norte-coreanos o papel de pretensos destruidores do american way of life, mas podiam ser os orcs da Terra Média ou os incas venusianos que estaríamos na mesma. Fora que ninguém leva os súditos de Kim Jong-un muito a sério, não temos atores jovens á altura de Patrick Swayze, C. Thomas Howell e Charlie Sheen. Na versão de 2012, Chris Hemsworth, o Thor da Marvel, consegue ser ainda mais sem carisma do que quando encarna o guerreiro de Asgard. Faltando o contexto político da era Reagan e com soluções fáceis e sem graça quanto o próprio filme, ficamos com saudade da virulência de John Milius.
Depois do pífio Duro de Matar 4.0 (Len Wiseman, 2007), Bruce Willis retorna como o azarado e indestrutível John McClane em Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer, agora sob a batuta do péssimo John Moore (de Atrás das Linhas Inimigas, 2001) Mas ele já não se mostra o mesmo. O policial bem humorado de outrora deu lugar a um personagem xenófobo, mal humorado e por vezes, um quase sociopata. Se antes havia resgatado a filha na aventura anterior, agora o roteiro lhe inventa um filho, que está sendo julgado por um crime na Rússia. É claro que o velho McClane se envolverá numa conspiração política e destruirá boa parte de Moscou no processo. Em certos momentos, chegamos a crer que seu filho Jack (Jai Courtney) é o verdadeiro herói, o que não seria uma má ideia, pois ele, em toda sua canastrice, é mais simpático do que a figura escrota que McClane se transformou. Yippe-ki- yay !
Leandro Caraça
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