Caça aos Gângsteres
Caça aos Gângsteres (Gangster Squad, 2012), de Ruben Fleischer
O cinema policial de pretensões noir, ou que apenas pretende contar uma boa e velha história de mocinhos e bandidos ambientada nas décadas de 1930 ou 1940, hoje constituí algo tão fora de moda na indústria quanto um faroeste. Mesmo com o sucesso de Los Angeles – Cidade Probida (Curtis Hanson, 1997), não houve um revival do gênero – nem alguém que esperasse que isto fosse acontecer. Por coincidência, um ano antes, e na mesma pegada, o neozelandês Lee Tamahori estreou em Hollywood com O Preço da Traição, um dos seus únicos trabalhos decentes nos EUA. Cabe não esquecer a obra-prima Os Intocáveis (1986) de Brian De Palma e a colorida adaptação de Warren Beatty para Dick Track (1990), filmes que ainda serviam como moderna referência até o filme de Curtis Hanson ganhar dois Oscar.
Em Caça aos Gângsteres, o diretor Ruben Fleischer – do agradável Zumbilândia (2009) e do raquítico 30 Minutos ou Menos (2011) – apresenta sua visão do que seria uma trama hard boiled, com tiras incorruptíveis e gângsteres malvados que parecem saídos de uma pulp fiction barata. Melhor dizendo, saídos de algum comic book, porque esta parece ser a referência do diretor. A Los Angeles de mentira mostrada aqui, fosse Fleischer um cineasta com um senso estético mais apurado, poderia ser aparentada com o tal neon noir que explodiu durante os anos 80 (em filmes de Michael Mann, Walter Hill, e pasmem, até Sam Fueller).
O universo criado por Fleischer tem menos a ver as influências estéticas oitentistas e mais com o carnaval que Warren Beatty produziu em Dick Tracy. Com suas caretas exageradas, Sean Penn lembra Big Boy Caprice, o vilão caricatural de Al Pacino no HQ em movimento de Beatty. Essa aproximação com os quadrinhos fica evidente quando as ações dos personagens de Caça aos Gângsteres se mostram completamente presos aos seus tipos. As ações do herói John O'Mara (Josh Brolin), um policial honesto até os ossos, beiram a idiotia tamanha é a sua convicção em fazer o que é certo. O roteiro não permite que os mocinhos e os bandidos sejam nada mais do que isso. Para Emma Stone, que trabalhou com Fleischer em Zumbilândia, lhe é reservado o papel de uma pseudo-femme fatale. Ela é apenas uma menina que sonha em ser Lana Turner ou Jessica Rabbit, mas que nunca consegue ser outra coisa senão um rostinho bonito que aqui se engraça para os lados de Ryan Gosling.
Deixando a comédia de lado num longa pela primeira vez, Ruben Fleischer extravasou com um noir de brincadeira, algo como um desenho animado levado a sério. Tem seu valor, mas mesmo nessa interpretação ele leva desvantagem. Porque se Caça aos Gângsteres está a milhas acima de algo desclassificado como Malone – Puxando o Gatilho (Russel Mulcahy, 2009), por outro lado não é trabalho de gente grande, como foram as travessuras da produtora japonesa Nikkatsu durante a década de 1960 ou o estranho e genial Até o Último Disparo (1974) de John Frankenheimer, que tinha direito até a vilões com garra mecânica.
Leandro Cesar Caraça
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