Deixe a Luz Acesa
Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, 2012), de Ira Sachs
Há semelhanças entre Deixe a Luz Acesa e Dez Invernos, assim como há graus de parentesco entre muitos dos filmes que se concentram inteiramente nas idas e vindas de um casal. Isso significa dizer que desde as primeiras cenas, à parte a surpresa dos créditos iniciais, expostos sobre lindos desenhos, surge uma sensação de que já vimos esse filme antes.
A fotografia granulada, os diálogos em inglês e o uso permanente de canções só aumentam essa sensação de território conhecido: trata-se de um filme independente americano. Conforme o filme avança e a complicada história de amor de Erik e Paul se desenrola, o chão por onde pisa o longa de Ira Sachs guarda cada vez menos segredos.
Pois quem vê cinema em quantidade razoável intui que o desenlace do amor dos dois não desembocará nem num final feliz filmado com grua num dia ensolarado, nem num gesto radical de demonstração de amor como no cinema de Michael Haneke. Não precisa ser mago para acompanhar o tipo de sensibilidade que Sachs imprime em seu filme.
Está na chave do “já vi isso antes” o fator determinante do gostar ou não de Deixe a Luz Acesa. Quanto menor a paciência com filmes que deliberadamente procuram trilhas há muito sedimentadas, maior a possibilidade de desgostar do filme.
A sorte é que Sachs faz a repetição direitinho. Filma razoavelmente bem, equilibra cenas descritivas, o roteiro lida com inteligência nas escolhas do que mostrar no intervalo de oito anos em que o filme se passa, insere suas músicas (a trilha é boa) nos trechos corretos para banhar as cenas.
Quando Paul, fora de quadro, “passa um cheque” no companheiro Erik, trata-se de um dos poucos comentários feitos pelo filme que apelam majoritariamente para um público homossexual. Pois seria uma bobagem dizer que Deixe a Luz Acesa é um filme gay: é a história de amor, da ascensão à decadência, de um casal.
É aberta a decisão de Sachs de fugir de um registro do gueto. Tanto que o diretor lida com bastante pudor com um material bastante explosivo: as imagens feitas por Avery Willard, pioneiro que registrou a cultura queer em Nova York, cuja trilha Erik, um documentarista em Deixe a Luz Acesa, persegue.
O filme de Ira Sachs é daqueles que provocam um relativo prazer durante a sessão, mas dificilmente um espectador chegará ao fim de 2013 lembrando de Deixe a Luz Acesa como um dos melhores do ano. Ou uma pessoa lembra de Candy, filme que trabalha num registro próximo a esse, como um dos maiores de sua vida?
Heitor Augusto
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