Ano VII

O Último Desafio

sexta-feira fev 1, 2013

O Último Desafio (The Last Stand, 2013), de Kim Jee-woon

Terminado seu segundo mandato como governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger retoma finalmente suas atividades como protagonista de filmes de ação. Não que ele tenha abandonado por completo a função de (hã …) ator enquanto batalhava na arena política. O agora sexagenário austríaco fez pontas em alguns filmes e sua presença em Os Mercenários 2 (Simon West, 2012), ao lado de outros dinossauros do cinema de testosterona da década de 80, serviu como um aquecimento para o grande retorno em O Último Desafio.

O fracasso de bilheteria nos EUA não corresponde à qualidade do filme, lançado em época de forte debate a respeito do controle de armas no país. Talvez este não tenha sido o melhor momento para Arnold Schwarzenegger, vindo de escândalos familiares, alinhado com os republicanos, lançar um filme onde interpreta um velho xerife de uma pequena cidadezinha. Acostumado com a pasmaceira local, Ray Owens (Schwarzenegger) precisa impedir que um chefão do cartel de drogas (Eduardo Noriega), a bordo de um possante carro modificado, atravesse a fronteira com o México. Para enfrentar o bandido e seu pequeno exército, Owens terá a ajuda dos fiéis ajudantes, mais o encrenqueiro local (Rodrigo Santoro) e o maluco do pedaço (Johnny Knoxville), que mantém um pequeno arsenal de armas, o qual ele chama de museu. Outra conveniência do roteiro, é que o xerife linha dura também é ex-membro de um esquadrão policial de elite de Los Angeles.

Temos aqui um cenário típico de faroeste, com Schwarzenegger envelhecido e com as feições lembrando Charlton Heston. A presença de Forrest Whitaker e a ponta de Harry Dean Stanton não acrescentam muito, e no final das contas o que torna o filme uma diversão de primeira – é o diferencial trazido pelo sul-coreano Kim Jee-woon, fazendo sua estreia em Hollywood. Na falta de um James Cameron ou John Milius, a sempre carismática figura de Arnold encontrou um ótimo parceiro no diretor de O Gosto da Vingança. Mais do que fazer um simples filme de encomenda, coisa que vitimou nomes outrora significativos do cinema de Hong Kong quando migraram para os EUA na década de 90, Jee-woon manteve sua marca visual, que o tornou um dos melhores cineastas para filmar corpos em movimento da atualidade. O humor também não é estranho a ele, visto seus dois primeiros longas, The Quiet Family (1998) e The Foul King (2000), enquanto que em O Bom, o Mau e o Bizarro (2008) ele ousou criar um bolgogui western, que tem na longa sequência da corrida em busca do tesouro, um dos mais incríveis momentos de perseguição e aventura neste milênio. É verdade que seus últimos trabalhos tinham uma duração maior do que precisavam, mas isso não acontece aqui. São 107 minutos perfeitos para se gastar com carros velozes, vilões explodindo, apologia às armas e as frases de efeito de Arnold Schwarzenegger. Um passatempo reacionário de primeiro, diriam alguns.

Leandro Cesar Caraça

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