Sete Psicopatas e Um Shih Tzu
Sete Psicopatas e um Shih Tzu (Seven Psychopaths, 2012), de Martin McDonagh
O segundo longa-metragem de Martin McDonagh sofre dos sintomas de uma doença crônica, a síndrome tarantinesca. Este mal já deixou de ser uma pandemia há algum, ainda que existam informes de casos isolados pelo globo de tempos em tempos, como vimos no brazuca Dois Coelhos. Diferente do bom Na Mira Do Chefe, a estréia de McDonagh, as situações forçadas e os personagens excêntricos de Sete Psicopatas e um Shih Tzu não conseguem disfarçar sua trama frágil e desconjuntada. Estamos novamente diante de um filme com diálogos metidos a esperto, rompantes de violência que surpreendem pela inconseqüência e diversos personagens que nunca chegam a significar nada.
Como os próprios psicopatas do título, que aparecem tanto no filme real, quanto na história policial que o personagem de Colin Farrel, um roteirista alcoólatra de Hollywood tenta escrever. Para combater a ressaca criativa, ele utilizará as experiências reais e a imaginação de outras pessoas para compor a galeria de matadores. Sendo assim, eles terão dupla representação em Sete Psicopatas e um Shih Tzu, com exceção de um – o padre vietnamita – que permanecerá uma figura fictícia até o final.
Se o filme até a metade não consegue juntar os pedaços de sua trama rocambolesca, ele se perde de vez quando a turma toda – mocinhos, bandidos e psicopatas – ruma até o deserto. Tudo porque Billy (Sam Rockwell), amigo do personagem de Colin Farrel roubou o cachorro de estimação de um perigoso chefe do crime (Woody Harrelson), e o cenário do deserto, como Billy menciona, é um ótimo local para um grande tiroteio. Até a conclusão, teremos bons atores desperdiçados (Harry Dean Stanton, Tom Waits) e outros no piloto automático costumeiro (Christopher Walken, Sam Rockwell) deste tipo de filme.
O diretor-roteirista tenta criar um exercício de metalinguagem de certo ponto até que interessante, mas longe de ser satisfatório. A opção de ter histórias imaginárias que se confundem com a realidade dos personagens é algo que foi alcançado de forma brilhante muitas vezes. Seja de maneira pretensiosa como em Trans-Europ-Express de Alain Robbe-Grillet, ou mais na brincadeira, visto em O Magnífico de Philippe Broca. Mas tudo o que Martin McDonagh conseguiu foi se aguentar na mesma corda bamba de Charlie Kaufman por alguns poucos instantes. Não à toa que o filme lembra Adaptação, de Spike Jonze. Com poucos instantes de valor, Sete Psicopatas e um Shih Tzu é na maior parte do tempo, a queda de McDonagh, incapaz de fazer um trabalho a altura do seu anterior e de trilhar os caminhos de Tarantino e Kaufman.
Leandro Cesar Caraça
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