Ano VII

Cleopatra

segunda-feira dez 17, 2012

Cleopatra (Brasil, 2007), de Julio Bressane

Se não formassem uma obra tão prolífica, os filmes de Julio Bressane soariam como imensos alienígenas no cinema brasileiro. Como o próprio Bressane nos brinda com um bom número de filmes a cada década, podemos dizer que eles se organizam em um corpo de obra brilhante.

Bressane é seguramente o cineasta que mais se aproximou de Manoel de Oliveira, especialmente em Cleopatra, com seu olhar pautado pela postura, pela encenação que respeita o texto e a história e permite a seus atores subirem de fato ao palco. Sua versão de Cleopatra consegue ser ao mesmo tempo um filme com seu próprio mundo, seu próprio tempo, e ainda assim não ignorar o que o cinema (De Mille principalmente, mas também Mankiewicz) já havia realizado no passado.

A sensualidade, marca maior da história de Cleopatra, é vista em cada instante e troca de olhar de Alessandra Negrini com qualquer ator em cena, mas especialmente com Miguel Falabela. O trabalho com os espaços, as cores, a construção de um espaço que reflete uma ideia de poder e mistério em todo instante. Nenhum outro cineasta consegue extrair de Walter Carvalho o melhor que ele pode oferecer para a fotografia de um filme. Criar algo, uma imagem, um lugar, uma cena, uma expressão de sentimento, não é algo que todos dominam, é como se Bressane merecesse mesmo nosso melhor diretor de fotografia.

A semelhança com a obra de Manoel de Oliveira não é uma novidade na carreira de Bressane, que sempre teve uma consciência do papel da representação, tendo encarado imensos desafios no trabalho com textos sem nunca ser careta, preguiçoso ou desrespeitoso, como comprovamos com a excelência de Tabu, Sermões e de tantos outros filmes. A palavra, tanto para Oliveira quanto para Bressane, é algo divino.

Cleopatra é mais um monumento deste cinema: arriscado, difícil, sedutor, provocador, cheio de mistério, cinemascope, erótico, fantástico; uma obra-prima, enfim.

Guilherme Martins

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