Frankenweenie
Frankenweenie (2012), de Tim Burton
Já há algum tempo Tim Burton vem se tornando um clássico, pois dele não mais se espera grandes invenções de estilo, e sim variações sobre o mesmo tema já conhecido e consagrado: ele mesmo. Esqueça Lewis Carroll, esqueça Sombras da Noite. O melhor assunto para Tim Burton continua sendo ele mesmo. E Frankenweenie confirma isso mais uma vez.
O longa é o remake de um média-metragem dirigido por Burton na Disney em 1982, com atores de verdade (Shelley Duvall, Daniel Stern e o menino Barret Oliver, de História sem fim), pouco depois de sua estreia como diretor com o curta-metragem em stop-motion que ainda hoje é tido como um de seus melhores trabalhos: Vincent, narrado por Vincent Price, ídolo que se tornaria amigo de Burton até sua morte, em 1993.
No Frankenweenie original, Victor Frankenstein é um menino que faz filmes estrelados por seu cão, o bull-terrier Sparky, que lá pelas tantas morre atropelado. Então, após assistir a experiências com eletricidade na aula de biologia, Victor decide ressuscitá-lo à maneira do Frankenstein de James Whale. O bichinho acorda, e então podemos imaginar o que acontecerá à medida em que pais, amigos e vizinhos descubram o segredo.
Trinta anos depois, o remake realizado com animação em stop-motion (desta vez dirigida inteiramente por Burton, e não mais em parceria como fizera em O Estranho Mundo de Jack, de 1993, e A Noiva Cadáver, de 2005), precisa encontrar meios de esticar a história para uma hora e meia de duração, o que exige a entrada de algumas tramas paralelas.
A mais importante gira em torno do torneio de ciências, disputado por várias crianças do colégio onde Victor estuda. Um dos personagens mais interessantes da animação é Rzykruski, o professor que injeta a curiosidade por ciência em seus alunos e que recebe a voz de Martin Landau (e a aparência de Vincent Price). Será graças ao seu professor, que Victor conceberá a ideia de usar eletricidade para reviver Sparky.
Burton usa dessa premissa para criticar aqueles que temem a ciência ou que simplesmente não a entendem. “As pessoas adoram tudo aquilo que a ciência lhes dá. Mas não as perguntas que ela faz”, diz Rzykruski. Mais tarde, será o seu uso errado que trará consequências trágicas.
Dispostas a superar Victor no torneio de ciências, algumas crianças reviverão outros animais mortos. Será a deixa para Tim Burton fazer uso de diversas referências do imaginário do cinema de horror, da tartaruga gigante Gamera dos filmes japoneses aos Gremlins de Joe Dante. Caberá a Victor e o fiel Sparky desfazer o mal causado pelas crianças que usaram da ciência para propósitos egoístas.
Sem contar com Johnny Depp pela primeira vez em uma década, Tim Burton resgata antigos parceiros (Winona Ryder, Martin Short, Catherine O'Hara, Martin Landau) para as vozes dos personagens, e ainda acha espaço para figura de Christopher Lee em imagens de O Vampiro da Noite de Terence Fisher.
À primeira vista, Victor pode parecer um típico protagonista das obras de Burton. Mas diferente de personagens marginais (Ed Wood), desajustados (Batman) ou solitários (Edward), o garoto Victor não se mostra infeliz. Tem pais afetuosos e um grande amigo, Sparky, além da possibilidade de amizade com a vizinha Elsa Van Helsing, sobrinha do prefeito da cidade. Burton assume mais uma vez que a família é importante.
Parece que aos poucos está trocando a preferência por grupos de pessoas fora de lugar (os tipos excêntricos de Ed Wood ou Peixe Grande) pela segurança do seio familiar, como fez em Sombras da Noite. Ainda que o amor por personagens estranhos faça parte de sua longa trajetória, Burton encontrou outros objetos com os quais se identificar.
Laura Cánepa e Leandro Cesar Caraça
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