Ano VII

Curvas da Vida

quinta-feira nov 29, 2012

Curvas da Vida (Trouble With the Curve, 2012), de Robert Lorenz

Antes de qualquer coisa, vamos ao óbvio, àquela que constituiria sozinha razão suficiente para você assistir ao agradável Curvas da Vida: Clint Eastwood. Quase vinte anos após Na Linha de Fogo, o ícone americano volta a atuar em um filme por ele não dirigido. No cargo, aqui, o debutante Robert Lorenz, sócio do veterano cineasta na produtora Malpaso, seu assistente de direção em obras-primas como Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal, Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro.

Como se não fosse o suficiente para gerar comparações nas quais, é evidente, Lorenz sairia sempre perdendo, Tom Stern é o fotógrafo e Joel Cox, um dos editores – se o primeiro é nome habitual nos créditos da filmografia mais recente de Eastwood, o segundo está com o diretor desde o amplamente subestimado Rota Suicida, de 1977.

Não são estas associações, no entanto, que faz deste um projeto na medida para agradar de imediato o ator Clint Eastwood. Suas preocupações, suas crenças, claramente impregnam Curvas da Vida, o tornando uma versão açucarada, recreativa, de muito daquilo que o espectador encontra em Bronco Billy ou Gran Torino, por exemplo. 

Seu personagem, Gus, é, acima de tudo, um ser fora de seu tempo, um velho olheiro de beisebol prestes a ser descartado pela equipe para a qual ele dedicara toda a sua vida. Um homem que exibe em seu rosto e em suas atitudes o sofrimento de uma personalidade amargurada, um sujeito simples por definição, para quem existe apenas o certo e o errado, e absolutamente nada entre isso.

Suas angústias acabam por definir o relacionamento com sua filha, Mickey (Amy Adams), cuja individualidade não poderia refletir outra que não a de seu pai. Ela é uma advogada em ascensão, mas alguém que certamente não está no local que gostaria: em um jantar supostamente romântico com o namorado, a encontramos mais em sintonia, mais à vontade, com o garçom do que com seu sofisticado par.

Gus irá à Carolina do Norte conferir in loco o que seus companheiros de equipe, baseando-se exclusivamente nas estatísticas, já dão por certo: a genialidade precoce do rebatedor de um time de ginásio, provável primeira escolha do draft para a MLB.

O problema é que o velho está ficando cego, e em seu auxílio parte Mickey, deixando para trás seus compromissos no escritório. Está preparado o terreno para um típico drama familiar de reconciliação e acerto de contas onde, evidentemente, também sobra espaço para um novo romance da garota: é neste clima de inocência e novos horizontes, de partidas amadoras, motéis de beira de estrada e bares com mesas de bilhar, que Johnny (Justin Timberlake) apresenta-se também como uma pessoa de quem o sonho fora desmantelado; no caso, por uma lesão no braço, após ser descoberto por Gus. Hoje, ele é olheiro do Boston Red Sox, mas quer tornar-se locutor. Será ele o elo entre o velho e a garota, alguém capaz de trafegar com desenvoltura entre os dois.

Está explícito que a simplicidade geral do filme pode fazer com que o enxerguemos raso, tolo. De fato, não há nada para além de sua superfície, e nos momentos que existe uma tentativa de aprofundamento psicológico dos personagens, tudo beira desandar ao sentimentalismo fácil. Não é o que ocorre, felizmente, e ao invés de leviano, devemos enxergá-lo como afetuoso, discreto; ou como um mero passatempo, da maneira que o esporte costumava ser, ao menos na visão nostálgica destes personagens. E de Clint Eastwood, claro!

Bruno Cursini

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