Argo
Argo (2012), de Ben Affleck
Terceiro registro do ainda galã Ben Affleck na direção, Argo repete o bom gosto pelo enredo e também a boa escolha de elenco que havia marcado as duas obras anteriores – o razoável Medo da Verdade e o superior Atração Perigosa.
Baseado em história verídica tão inacreditável que só poderia acabar no cinema, Argo surge em momento mais do que propício para justificar as críticas positivas que vem tendo nos EUA, e que mais tarde, podem resultar em indicações para o Oscar. É o mínimo que se poderia esperar de um thriller bem conduzido em sua maior parte, que mostra um agente da CIA (Affleck), inteligente e pai amoroso, que apoiado pelo governo democrata de Jimmy Carter, consegue resgatar um grupo de americanos que se escondem no Irã durante a revolta dos aiatolás. Para tanto, o mais improvável dos planos, convencer os iranianos da existência de um filme de ficção científica, cujos membros da equipe fazem os primeiros estudos para a pré-produção. Uma maneira viável encontrada pelo personagem de Affleck, será ainda uma desculpa para piadas sobre Hollywood, todas elas através de Alan Arkin (o produtor de mentira do filme que não existe) e John Goodman, no papel de John Chambers, ganhador do Oscar especial de maquiagem por O Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner) e real colaborador da CIA na vida real.
O desenvolvimento do roteiro de Argo divide-se em três atos. Existe o problema no começo, e a resolução deste problema ao final. A parte do meio, que serve como ligação, é o que o filme traz de melhor. Não apenas a sátira de Hollywood, mas os bastidores de uma suposta cópia de Guerra nas Estrelas de George Lucas, com os atores vestindo as fantasias ridículas e declamando suas falas pomposas durante o ensaio – que o diretor intercala com outras cenas, de combatentes iranianos dentro da embaixada americana, repleta de reféns assustados. O que poderia dar errado nesta sequência não acontece, uma vez que Affleck não veste a camisa do ufanismo americano em momento algum. Sua fraqueza vem de uma certa inocência narrativa, abusando da possibilidade de aumentar a tensão de várias sequências, em particular perto da conclusão, quando Affleck tenta embarcar seu grupo dentro de um avião. Tais momentos não revelam um cineasta conhecedor das melhores ferramentas, apenas um esforçado operário, que segue com rigidez a cartilha dos thrillers setentistas. Estes foram produtos marcantes de uma época, porém, frutos de cineastas de segunda linha, como Sidney Pollack e Alan Pakula. Possuidores de uma mão pesada que não deixa espaços para sutilezas ou que o filme alcance notas maiores, tudo o que fazem é deixar a narrativa intrincada e por vezes verborrágica seguir seus bem traçados desde o início. Ben Affleck não é Clint Eastwood, isso é claro.
Deixados os exageros de lado, Argo se mostra um thriller eficaz, mais por ser inspirado em um fato oculto até pouco tempo e por usar Hollywood como meio para compor sua trama do que pelos aspectos políticos presentes, sem falar da fraca construção do suspense em várias cenas importantes. Sobram os divertidos momentos em que Alan Arkin e John Goodman investem contra a indústria de cinema. O filme perde quando seus personagens saem de cena, voltando vez ou outra, para não fazer muita coisa. Affleck deveria ter investido mais na parte do meio da história. O Argo de ficção, com sua trama passada num planeta deserto nos confins da galáxia, acaba sendo tão alienígena quanto as políticas praticadas pelos estadunidenses no Oriente Médio.
Leandro Cesar Caraça
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