Terror em circuito
A Entidade (Sinister, 2012), de Scott Derrickson
Atividade Paranormal 4 (Paranormal Activity 4, 2012), de Henry Joost e Ariel Schulman
Possessão (The Possession, 2012), de Ole Bornedal
Época do ano bem receptiva ao gênero do terror, o Halloween trouxe para os cinemas brasileiros três filmes a tempo de comemorar a data. São produções que obtiveram performances razoáveis nas bilheterias americanas e que por isso, têm justificadas as suas estreias por aqui. Menos sorte teve o ótimo O Segredo da Cabana de Drew Goddard, que deveria ter sido lançado no dia 02 de novembro, mas a Universal acabou desistindo do plano. Os três filmes aqui comentados, não estão entre o que de melhor se produziu na temporada, mas representam bem as novas tendências do gênero.
A Entidade, de Scott Derrickson, retoma o tema do found footage, recurso ainda muito em voga no horror contemporâneo. Ethan Hawke é o escritor decadente de casos policiais verídicos, que se muda com a sua família para uma casa onde ocorreu um assassinato em massa no passado. Ele descobre no sótão da residência, diversos filmes em super 8, que mostram com exatidão crimes brutais envolvendo a família que morou naquela casa e várias outras, Acreditando se tratar do mesmo assassino, ainda que o primeiro rolo de filme date dos anos 1960, o protagonista passa a investigar o caso esperando ter em suas mãos, um novo sucesso. Aos poucos, começa a perceber que os crimes podem ter origem em uma antiga divindade e que sua própria família – que incluí a esposa e o casal de filhos – podem ser as próximas vítimas do ciclo de matança. Scott Derrickson convenceu muitas pessoas de que era alguém talentoso em O Exorcismo de Emily Rose, mas logo mostrou sua verdadeira cara no pavoroso remake de O Dia em que a Terra Parou. Ainda que não seja um grande filme, A Entidade é bem melhor do que os anteriores, conseguindo emular alguns bons sustos (como os que envolvem o filho sonâmbulo de Hawke), e principalmente, sempre que mostra ao público o conteúdo dos filmes em super 8. Mesmo assim, Derrickson comete o erro de incluir uma trilha sonora incidental (de Christopher Young) durante a projeção desses filmes. O que seria a simples escolha de realçar o impacto na cena acaba criando uma bagunça diegética, pois a música não poderia estar vindo do super 8, ainda que se mostre em total sincronização com as imagens.
Atividade Paranormal 4, de Ariel Schulman e Henry Joost, continua com a atual franquia de maior sucesso do horror. Os mesmos diretores do anterior (o melhor de todos os exemplares até aqui), voltam ao tempo presente depois de mostrar as origens da maldição da família aterrorizada por entidades diabólicas. Como ficou bem claro no terceiro episódio, estamos diante de uma série onde o demonismo e a bruxaria são as forças que ameaçam os indefesos protagonistas. A série Atividade Paranormal se revelou seguidora de uma linha que resgata um subgênero deixado de lado nas duas últimas décadas, que é o terror envolvendo práticas satânicas de qualquer tipo. Diferente das cópias de O Exorcista, o que vale aqui são missas negras, seitas malignas e sacrifícios humanos. Embora seja inferior ao anterior, a dupla Schulman e Joost consegue manter a boa média da franquia ao contar o que aconteceu com a criança raptada no segundo filme – agora já um pouco crescida e pronta para aceitar seu papel na trama. Mesmo que o recurso da câmera em primeira pessoa já esteja meio desgastada e muitas vezes não faça sentido (e os realizadores sequer se preocupem com isso), os momentos aterrorizantes compensam alguns rumos preguiçosos, que qualquer série de terror em sua terceira continuação cometeria. Dos filmes de terror em cartaz, é sem dúvida o melhor, com os últimos cinco minutos valendo o ingresso. As portas, claro, são deixadas abertas para futuras atividades sobrenaturais.
Possessão, de Ole Bornedal, é a mais nova produção da Ghost House Pictures, de Sam Rami (A Morte do Demônio; Arraste-me Para o Inferno). Levando em conta o histórico desta empresa, não se poderia esperar muita coisa, ainda mais quando o diretor contratado é o dinamarquês Ole Bornedal. No passado ele já havia refeito seu medíocre Nightwatch – Perigo na Noite nos EUA (com Ewan McGregor e Nick Nolte) e recentemente cometeu uma vergonhosa versão disfarçada de Sob o Domínio do Medo (de Sam Peckinpah) – antes mesmo que o remake oficial fosse realizado nos EUA.. Mesmo não sendo uma perda de tempo total, Possessão perde qualquer possibilidade de uma defesa graças ao roteiro primário, que vai ligando vários acontecimentos sem muita verossimilhança ou preocupação em desenvolver a história. O que importa mesmo são os momentos de terror, que vez ou outra funcionam, mas não capazes de carregar o filme sozinho ou ao menos construir uma atmosfera carregada de estranhamento, como aquele que os italianos tinham a receita. Não é por acaso que Possessão lembra às vezes de determinadas produções de horror das décadas de 70 e 80, quando o roteiro apenas costurava as cenas, sem muita preocupação, para depois apresentar o grande susto. O melhor exemplo aqui seria é a presença de um personagem, o pai adotivo, que mais tarde se mostrará sem propósito algum, a não ser sofrer um atentado maligno que justificasse os seus diálogos até então. O problema deste filme é que se fica com a sensação de vazio ou forçação de barra, como quando Jeffrey Dean Morgan se convence rapidamente de que a filha está tomada por um demônio maléfico da cultura judaica. Depois disso, da completa aceitação do problema até ao desafio do exorcismo da menina, tudo ocorre mais rápido do que o aconselhável. Nas mãos de Bornedal, a receita desandou de vez.
Leandro Cesar Caraça
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