Hemel
Hemel (2012), de Sacha Polak
Estreia da jovem cineasta holandesa Sacha Polak, Hemel procura exibir a carência de afeto de sua personagem, justificando seu comportamento promíscuo, através do tão explorado conflito edipiano, particularmente no momento em que seu pai encontra uma nova namorada. Para supostamente demonstrar a confusão mental da criatura – naquilo que seria um profundo estudo de personagem – a vemos adotando um comportamento masculinizado, urinando em pé e repelindo qualquer carícia pós-coito.
Seu problema, no entanto, extrapola essa utilização de um universo ficcional com o intuito de, penosamente, materializar uma dissertação – na realidade, nem com respaldo teórico parece preocupada a realizadora, preferindo suprimir maiores indagações com elipses bastante esquemáticas.
Falha maior é sua pouca habilidade em ilustrar o quão decadente sua personagem pode chegar, tudo em decorrência de uma suposta confusão entre sexo (normalmente torpe) e amor (praticamente inexistente). Em uma cena sintomática, após uma relação forçosamente masoquista com (e contra) a protagonista, a encontramos em uma festa, na qual, para fazer saltar aos olhos seu esfacelamento emocional, lhe é apresentada uma virgem, que aguarda o casamento para perder sua inocência. Adequado ao impulso em contrastar com os hematomas em seu rosto, o olhar apaixonado e cândido desta outra moça, seguindo o que Polak nos força acreditar tratar-se de um caminho mais íntegro para nossas vidas.
Exaurindo a ficção de algum eventual vigor insubordinado ao limitado diagnóstico psíquico de sua personagem, a diretora debutante resume os eventuais méritos de seu trabalho (sempre em decorrência do elenco) aos pequenos trechos dentro de seus aleatórios blocos narrativos. São nestes raros momentos que alguma realidade para além de uma necessidade de provocação pura e simplista – o sexo como válvula de escape e gerador de sentido no mundo contemporâneo – parece dar vida aos bonecos de até então.
Bruno Cursini
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