Os Visitantes
Os Visitantes (Die Besucher, 2012), de Constanze Knoche
A narrativa elíptica de Os Visitantes é uma escolha apropriada para o filme de estreia de Constanze Knoche pois o epicentro do enredo é uma família calcada no silêncio. As ações não completadas dos personagens e as omissões de transição logo de cara dão essa atmosfera de que falta algo. Com o tempo descobriremos que esse algo é diálogo.
Parece faltar dois verbos na cartilha dessa família: falar e ouvir. Tardiamente, o pai se lembra de que ambos verbos existem e tenta conjugá-los com os filhos. Triste e tolo gesto fadado ao fracasso, dado o contexto deles. Afeto e ódio formam um estranho amálgama. O gesto do pai pode, no máximo, oferecer a ilusão de um dia de que eles são realmente uma família. Restam outros 364 dias, conhecidos como realidade.
Um filme correto e decente como este Os Visitantes fica espremido, num evento grande como a Mostra, entre a maravilhosa retrospectiva de Tarkóvski e grandes e bons longas da safra recente – Miguel Gomes, Manoel de Oliveira, Marco Bellochio, Kleber Mendonça Filho, Caetano Gotardo. Eu mesmo só o vi por acidente, já que a sessão de Mar Calmo, de Volker Schlondorff, a quem eu resolvi dar mais uma chance, foi cancelada. Ficar renegado a um segundo plano por conta dos grandes é normal. Perder atenção para os embustes hype que vem legitimados de prêmios daqui ou acolá é que não dá para aceitar.
Mas voltando ao filme, Constanze não vai além das suas pretensões e arrisca no simples. Ou seja, em vez dos planos longos e contemplativos, prefere os mais enxutos. Em vez do silêncio, a fala. É justamente ao falarem que os personagens mostram não ter a menor noção do que é o diálogo. Em vez da trilha para criar efeito, o som ambiente.
Melhor parar por aqui, porém, para não passar a impressão que Os Visitantes é um oásis. É um filme correto, que deixa mais para o diálogo a função de impressionar do que para a câmera. Mas faz isso de maneira aceitável.
Vale para preencher buraco entre sessões.
Heitor Augusto
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