Mais do mesmo, versão abroad: Além do Horizonte e Quatro Sóis
Mais do mesmo, versão abroad: Além do Horizonte e Quatro Sóis
Além do Horizonte e Quatro Sóis são duas produções que, ignorando seus enredos, operam na mesma chave: ambos colocam seus personagens (que até então não tinham rumo na vida) em uma situação limite para, ao final, se reavaliarem e, principalmente, reafirmarem o valor da amizade e, sobretudo, da manutenção do núcleo familiar. Nada mais banal, afinal. O condenável, no entanto, é que os dois partem de uma superfície moderna e contemporânea, buscando um espaço entre o público dito alternativo ou, para piorar a categorização, de arte.
Às vezes conseguem esse campo, como é o caso da produção tcheca, apresentada no Festival de Sundance. O roteiro gira em torno de uma família disfuncional, durante um momento de violenta crise financeira. Em sua primeira cena, um pai esbraveja contra seu filho sobre a impossibilidade de um futuro melhor. Juntos, tentam plantar uma árvore. Eis que chega um homem mais velho, tipo místico, e diz que naquele local ela não iria se desenvolver, e caminha pelo jardim na busca por um local mais apropriado. Como em qualquer novela, os personagens são imediatamente reconhecíveis, apresentando-se de imediato, em sua totalidade.
Logo sabemos que esta figura zen irá apresentar uma alternativa às vidas nesta família, e essas pobres simbologias não irão parar por aqui: em um momento posterior, o pai do garoto tenta um novo emprego, selecionando pintinhos de granja que irão para o abate. Ao descobrir que quaisquer problemas nas aparências destas pobres criaturas acarretam em seu abate imediato, ele desmaia e se demite do posto. A mensagem é clara: em nossa sociedade, não há espaço para os mais debilitados.
O que salva o filme de ser um desastre total (trata-se apenas um desastre simples, banal), é a personagem da esposa do pai desta família em decomposição. Ela é a madrasta do menino da primeira cena, e encontra-se dividida entre uma aparente obrigação em continuar seu casamento já perdido e tentar qualquer coisa nova. Nossa esperança, ao acompanharmos essa trajetória, é a de que, talvez, ela redima todo o resto, mas é infelizmente através dela que a mensagem edificante de sua conclusão irá se concretizar.
Já em Além do Horizonte, onde uma mulher de 25 anos tem sua vida alterada com a gravidez decorrente de uma breve trepada no banheiro de uma danceteria, o que poderia preservá-lo de sua total ineficácia (e aqui se trata, de fato, de uma) seria não apenas o inesperado fato da perda do bebê no sexto mês de gestação, mas a opção da garota em não dividir o fato com ninguém, recusando-se a fazer a operação necessária para a manutenção de sua própria saúde.
Com esse impasse, tímidos resquícios de verdade aparecem no rosto da garota, que no momento encontra-se ciente da futilidade de sua vida anterior e, simultaneamente, sabedora da impossibilidade do futuro que, talvez, tirasse sua ausência de sentido vital. Para não confundir o espectador, infelizmente, tudo se encaminha rapidamente para um final moralizante, pasteurizando qualquer esboço de ousadia prévia (e isso vale aos dois filmes aqui comentados, duas produções independentes de países distantes que, na essência, ratificam exatamente aquilo que nos apresentam semanalmente qualquer blockbuster americano).
Bruno Cursini
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