Dois tapa-buracos: A Feiticeira da Guerra e Mosquita e Mari
Dois tapa-buracos: A Feiticeira da Guerra e Mosquita e Mari
Às vezes (mais frequentemente do que essa expressão pode sugerir) nos pegamos vendo filmes que, em tese, não tínhamos a menor intenção de ver. É o caso de A Feiticeira da Guerra e Mosquita e Mari, exibidos respectivamente no primeiro e segundo dia desta Mostra.
Foi com bastante disposição que comecei minha programação no Cinesesc, minha sala predileta de São Paulo. Cheguei cedo, às 13h, tentando assim um ingresso para o último Miguel Gomes, Tabu – sessão essa que só começaria às 21h10. Uma vez que para a cota de imprensa tais entradas já haviam se esgotado há dias, quiçá semanas ou – suspeito – anos, foi encarando a fila na bilheteria que decidi também arriscar com o canadense A Feiticeira da Guerra, menção especial no prêmio ecumênico do último Festival de Berlim, onde ainda saiu com o Urso de Prata de atriz, para a congolesa Rachel Mwanza.
Nele, uma garota é apreendida por rebeldes e obrigada a lutar em uma guerra civil, na África. Abrandando ao máximo qualquer teor político de sua obra, o cineasta Kim Nguyen prefere contar – com eficiência e esterilidade equivalentes –, um drama de sobrevivência e aprendizagem. Para isso, o roteiro recorre aos encantos do surgimento de um primeiro amor e, de maneira mais problemática, às dores da superação traumática do assassinato dos pais da menina.
Em um terreno muito mais prosaico, Mosquita e Mari pretende simultaneamente mostrar o afloramento da homossexualidade entre duas garotas de 15 anos e, também, todo o modo de vida da enorme comunidade mexicana, em Los Angeles. Para isso, clichês não serão poupados, tudo em nome de um suposto realismo visceral, tão caro ao cinema americano independente.
Não será aqui que você verá o Randy’s Donuts (que outro país, ou melhor, que outra cidade teria um cartão-postal assim?) ou a fachada do The Beverly Hills Hotel and Bungalows. No lugar do sonho americano, problemas financeiros e preconceitos de toda ordem.
Aos clichês: duas garotas, uma bonita, outra feia. A primeira é Mari, com dificuldades na escola e no convívio com sua mãe. Consumidora de drogas e arquiteta de pequenos furtos, sua juventude caminhava à delinquência e à prostituição, não fosse pela intervenção do destino em colocar Mosquita, seu exato oposto, como sua colega de estudos.
A diretora (e roteirista) estreante Aurora Guerrero usará o ano letivo da dupla para delinear seu enredo sobre descoberta sexual e crítica social, sempre seguindo milimetricamente as dicas dos manuais de roteiro e das cartilhas do cinema de baixo orçamento, ou seja, dá-lhe conflitos psicológicos e câmera na mão, tudo rumando ao seu final superficialmente aberto.
Como quase sempre, também (e é necessário que se diga) os atores evitam o desastre, tornando apenas insípido esse caminho de menos de hora e meia de uma junção entre forma e conteúdo já bastante gasta (ou "esburacada", se preferir outro adjetivo para fecharmos fazendo jus ao título deste rascunho agora terminado).
Bruno Cursini
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