Os Infratores
Os Infratores (Lawless, 2012), de John Hillcoat
Comparado ao restante da filmografia de John Hillcoat, Os Infratores se diferencia por não se ambientar em um cenário inóspito e perigoso. Os campos do condado de Franklin, no estado americano na Virgínia, em nada nos lembram do deserto australiano de A Proposta (2005) ou do mundo pós-apocalíptico de A Estrada (2009). Tampouco da prisão sem regras de Ghosts… of the Civil Dead (1988) ou da cidade situada no meio das florestas da Papua Nova Guiné em To Have & To Hold (1996). Pelo contrário, a comunidade rural de Franklin não tem nada de desoladora, e a paz continua a reinar mesmo com uma considerável parte de seus habitantes burlando a Lei Seca.
Entre os fabricantes de bebida ilegal se destacam os três irmãos Bondurant: Forrest (Tom Hardy), Jack (Shia LaBeouf) e Howard (Jason Clarke). O núcleo familiar será importante (como se mostrou em A Proposta ou A Estrada), porque será por meio dele que os personagens principais encontrarão forças para enfrentar a corrupção vinda de Chicago, em especial o agente Charles Rakes (Guy Pearce). Temos aqui então uma inversão de valores, com a desordem trazida para a cidade não por contraventores, mas por homens da lei que desejam tomar proveito do comércio local de bebidas.
Construído como um filme de gangster, com direito a uma antológica sequência de apresentação do chefão criminoso interpretado por Gary Oldman (na verdade um coadjuvante de luxo), Os Infratores também dialoga com o faroeste, pois temos um local onde a lei não alcança, mas que diferente do que exige o gênero, deverá permanecer assim para que haja a paz. O sangrento tiroteio final que resolverá todas as pendências, não à toa, vai nos lembrar do histórico episódio em O.K. Corral, que também foi eternizado pelo cinema. Mas embora o ambiente não seja familiar, Os Infratores vai se desenvolver em paralelo a uma típica saga de gangsters, que será a sua principal referência. Temos o conflito da proibição da bebida, tema de diversos filmes e séries, que aqui vai significar mais do que o ganho fácil, vai sim dizer respeito ao modo de vida e à independência dos irmãos Bondurant. Em certo momento, um grave atentado à vida de Forrest vai se mostrar a oportunidade tão aguardada para que Jack, o mais jovem do clã, assuma os negócios da família. Diferentemente de O Poderoso Chefão, com um inicialmente relutante Michael Corleone, em nenhum momento qualquer um dos Bondurant vai desejar estar em outro lugar senão ao lado dos familiares.
Cineasta bissexto até pouco tempo, John Hillcoat assina seu filme mais comercial, o que menos se preocupa em provocar surpresas no público. O roteiro – baseado em fatos verdadeiros – escrito pelo músico Nick Cave (parceiro constante de Hillcoat) segue à risca o que se espera desse tipo de história, mas faz isso honrando a tradição do cinema clássico. Ainda coloca frente a frente personagens de grande impacto, como os vividos por Guy Pearce e Tom Hardy, sendo que este último caminha a passos largos para se tornar o maior galã brutamontes da atualidade, além de mostrar-se um ator de respeito.
Leandro Cesar Caraça
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