Hotel Mekong
Hotel Mekong (Mekong Hotel, 2012), de Apichatpong Weerasethakul
A chegada de Apichatpong ao oficialismo dos festivais criou, como de costume com cineastas que vivem neste universo, uma cisâo entre os desconfiados e os defensores. A moda existe, é evidente (ainda que a sessão algo esvaziada para um cineasta do momento diga o contrário), e com ela uma grife foi instalada. Como ocorrera com Tsai Ming-liang e antes dele tantos outros cineastas de olhar forte e talento inconstestáveis, seu estilo precisa de alguma inventividade, um novo sopro de força. Hotel Mekong seria, então, um filme pequeno, menor na obra de um cineasta essencial.
Apichatpong possui um bom número de trabalhos com instalações, com diversos vídeos experimentais para este tipo de formato. O filme ameaça ser um curto-circuito entre estes trabalhos e os longas do cineasta; no entanto, aos poucos ele revela uma construção de personagens mais forte e interessante do que se suspeitava. O verdadeiro interesse do filme se instaura nisso, no observar da postura dos atores em seus diálogos, que ora parecem calculados, ora soam improvisados. Planos longos que nos permitem tentar tirar dos gestos algo de significativo. Um universo construído como uma tentativa de emular um sonho. A filmagem fracassada de um outro filme do cineasta surge ali expurgada como um fragmento da memória. Dali se tira alguma beleza. De outras partes, saio com a impressão de que o cineasta estava mais inflando o filme para fazer deste novo experimento um longa de uma hora. Fica então postergada para um próximo filme a resposta se o tailandês saberá preservar o seu estilo e reinventar-se com talento.
Observação: embora ela toque infinitamente de propósito ao longo de Hotel Mekong, a melodia tocada pelo homem na escadaria do hotel é muito bonita. É um blues tailandês.
Guilherme Martins
© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br