Ano VII

Looper

sexta-feira out 5, 2012

Looper – Assassinos do Futuro (Looper, 2012), de Rian Johnson

Looper, de Rian Johnson, é do tipo de filme: a) que te leva para lados inesperados a cada nova cena; b) que pode te emocionar mesmo quando o inesperado não parece agradável numa primeira sensação. Não há nem uma fagulha da previsibilidade que contamina o cinemão americano, o que já o coloca como uma exceção dentro da produção hollywoodiana atual. E o que nos toca em geral surge abruptamente, sem preparação.

Ficção-científica pessimista (como quase todas as boas), inventiva sem menosprezar a inteligência do espectador, com reviravoltas que mais parecem exercícios de roteiro, usa os efeitos especiais de modo a valorizar o drama, nunca a pujança econômica do estúdio.

O roteiro, escrito pelo próprio Johnson, é inteligente o bastante para promover o encontro de Joseph Gordon-Levitt (doce moço de traços delicados) com Bruce Willis (bonachão brucutu com classe), sendo que o segundo vive o mesmo personagem do primeiro, Joe, só que 30 anos mais velho. Os dois iniciam um jogo de perseguição em que o mais novo deve matar o mais velho como parte de sua profissão, e terá, assim, data marcada para morrer, e 30 anos para viver a breve vida dos hedonistas. O mais velho, por sua vez, quer matar um menino que, no futuro, irá se tornar o grande vilão da humanidade. Ou pelo menos o grande vilão segundo esses profissionais que vivem de matar homens do futuro.

O Joe moço passa então a proteger o menino do Joe mais velho. Primeiro por não entender o porquê de tanto ódio. Segundo por ter adquirido compaixão pelo menino, e atração sexual pela mãe do menino (não podemos censurá-lo, trata-se de Emily Blunt). Quando descobre que os poderes telecinéticos do menino são letais e entende por que ele deve ser assassinado, passa a viver o dilema: deve-se matar Hitler ou tentar mudar as circunstâncias que o levariam a se tornar um assassino sanguinário? Há possibilidade de mudança? A resposta encontrada pelo protagonista constitui um dos melhores momentos do filme, tanto por correr o risco de desagradar boa parte da plateia que resistia ao roteiro engenhoso e complicado, quanto pela solução usada para encenar tal resposta.

Looper tem um quê de Shyamalan, especialmente quando entra em cena o menino que no futuro será o grande tirano de poderes sobrehumanos. Mas tem um quê de Carpenter também, como na cena em que o menino aparece protegido por uma luz cegante na porta do celeiro.

Johnson pode não ser tão chegado à fábula quanto o diretor de A Vila, nem um mestre do enquadramento como Carpenter, mas não passa vergonha ao ser comparado com os dois. Seu filme tem uma alternância de registros que contribui para que não saibamos o que iremos encontrar mais adiante, e planos de uma plasticidade incrível, sem que estejam desconectados da história que está sendo contada.

É um feito e tanto. Ainda mais nesta época em que Hollywood vive correndo atrás do próprio rabo.

Sérgio Alpendre

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