Oásis num deserto cinematográfico
Oásis num deserto cinematográfico
Quem não circula fora dos grandes centros talvez tenha dificuldade em entender que festivais como a Goiânia Mostra Curtas funcionam como o oásis num deserto cinematográfico. No cenário brasileiro de circuito exibidor insuficiente e concentrado, mostras como essa são a chance de se estar a par do que acontece na produção – ainda mais no curta-metragem, cuja janela é praticamente restrita aos festivais e à internet.
O que se percebe conversando com pessoas ligadas ao audiovisual local é que talentos existem. Condições para que eles amadureçam, não. A lamentação geral é a falta de continuidade e de uma rede forte de políticas públicas para o setor. Vive-se de esforços individuais, da ação entre amigos, de acontecimentos sazonais. Das que mantém uma mínima continuidade, como o curso de audiovisual da UEG, ainda é difícil medir os efeitos: são apenas seis anos de curso. Isso numa capital relativamente nova – Goiânia tem 78 anos. É preciso tempo e paciência.
Foi uma bem-vinda surpresa ver o Teatro Goiânia cheio não só na abertura, que tinha também o atrativo do show de Thiago Petit, mas no primeiro dia de exibições. Na sessão dupla da Mostra Brasil, sala lotada para acompanhar quase três horas seguidas de curtas-metragens. Na sessão da Mostra Goiás, nem o horário ingrato (15h), nem a rodada da Champions League inibiram a presença do público – menor, obviamente, do que à noite, mas ainda assim significativa.
Na plateia, a principal surpresa no primeiro dia foi a presença de adolescentes, o que é fundamental para que uma mostra de cinema cumpra uma de suas obrigações, a formação de público. Entre eles, estudantes que vieram por iniciativa de uma professora. É importante que o cinema entre na escola não como mais uma obrigação que o aluno tem de cumprir, mas como ferramenta para despertar o olhar para o mundo.
Também foi outra boa surpresa descobrir que existe um esforço em suprir as carências de exibição com cineclubes.
A Goiânia Mostra Curtas tem doze anos e a impressão para este que acaba de conhecê-la é que já alcançou uma solidez e um respaldo local. Seria interessante ver mais eventos do tipo, com continuidade, para uma formação mais equilibrada da cadeia de produção, colocando, quem sabe, a produção local em festivais também de repercussão nacional – coisa alguns estados fora do centro tem conseguido, como a Paraíba.
Heitor Augusto
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